Primeiro, um concurso para desvendar o dono da voz que iria encantar as crianças com o tradicional “ho ho ho” do Papai Noel. Comunicativo e de cabelos grisalhos, era o assistente técnico José Édson Cardoso. Para o cargo de Mamãe Noel, quatro candidatas e uma eleição acirrada com 250 votantes. Gilsinele Sousa, a Neli, estava orgulhosa. Conquistou 38% da preferência dos colegas da Hemobrás (Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia). Era o reconhecimento por seu tradicional empenho para a instalação de pisca-pisca e bolas reluzentes todos os anos. Neli fez jus à conquista e caprichou na produção: com a filha, customizou a sua roupa e até brincos de árvore de natal pendurou nas orelhas. Junto ao corpo funcional, a mobilização era para a adoção das cartinhas escritas por 122 crianças da Escola Municipal Nossa Senhora das Maravilhas, de Goiana (PE), vizinha do complexo fabril da Hemobrás.
Jeferson, 6 anos, foi específico: queria um ônibus de brinquedo; Elias, um caminhão do corpo de bombeiro; Williana, Mariana e Lays pediram uma boneca. Alice só pensava no desejado urso de pelúcia. “Era meu sonho. Amei meu panda”, disse a menina, agarrada ao urso, pouco depois de receber o pacote embalado com laçarote vermelho. Todos os desejos foram atendidos. Uma garotinha era a exceção. Ela parecia chateada por ter recebido uma roupa. Essa era a sua segunda opção, mas preferia material escolar. O problema foi rapidamente resolvido com uma doação extra. O menino que ganhou um skate parecia incrédulo por seu pedido ter chegado exatamente como imaginava. Radiante, não teve tempo para entrevistas.
Os pedidos de cada criança estavam descritos com letrinhas desalinhadas. Quem ainda não sabia escrever, contou com a ajuda dos professores. Os “padrinhos” foram criteriosos nas compras. Alessandra Pereira, recém- empossada no cargo de Analista de Fracionamento Industrial de Plasma, fez questão de escolher uma barbie de vestido amarelo e pele morena, à brasileira. “Na infância, nunca tive papai noel e nem ganhei uma Barbie. Naquela época, eu só tinha duas bonecas, Ana Clara e Ana Escura. Estou realizada demais hoje”, comentava Alessandra minutos antes de participar da ação como voluntária ao lado de outros funcionários de setores diversos da Empresa. Gerlane Magalhães, assessora de Comunicação, Marketing e Eventos, idealizadora e organizadora da mobilização há cinco anos, cuidava da conferência das cartas e separação dos presentes por turmas. Não esquecia dos detalhes; estava empenhada para que o sininho dourado da atração principal chegasse a tempo na caravana Recife-Goiana.
Sentadas no batente de cimento queimado no alpendre da escola situada na zona rural, as crianças demonstraram ansiedade. “É ele, é ele”, gritavam apontando para a entrada da escola, enquanto o time de voluntários organizava a saída triunfal de Cardoso e Neli, vestidos de roupas vermelhas, cintos, botas pretas e gorros. Ao descerem do carro, os dois foram ovacionados com músicas e apresentações natalinas. “O nosso objetivo maior é fazer com que essas crianças tenham um dia feliz e renovem as suas esperanças”, disse o Papai Noel da Hemobrás. “São crianças com pouco acesso a bens de consumo. Para cerca de 90% delas, essa é a única festa de Natal que terão”, conta a diretora da escola, Ana Paula Magno, emocionada e agradecida pela parceria – que já é esperada pela comunidade meses antes da chegada de dezembro.
No evento, realizado na última sexta-feira (15), fotografias ao lado do “bom velhinho”, sorrisos espontâneos e até lágrimas daqueles que estiveram na pele de uma criança décadas atrás, quando naquele terreno funcionava o Engenho da Usina São Francisco. O prefeito da cidade, Eduardo Honório, prestigiou o Natal da Hemobrás na Escola sem esconder a emoção por lembrar da época em que foi “criado nas ruas”. Eduardo fez questão de agradecer aos funcionários da Hemobrás pela parceria, assim como à própria instituição pela solidariedade em momentos difíceis, como durante a pandemia da Covid 19, que teve seu pico de casos entre 2020 e 2021. Cardoso e Neli, o Papai e a Mamãe Noel, estavam tomados pela função naquela manhã. Abraçavam, sorriam, recebiam criança a criança e conferiam o nome de cada uma observando a carta colada nos brinquedos. O tilintar do sininho dourado havia chegado e fez toda a diferença para a festa. Na mão de Cardoso, ele ofereceu o som lúdico da magia natalina. Beirando às 12h, quando Cardoso virou as costas, já com o saco de presentes vazio, um garotinho indagava para outro usando uma expressão das mais pernambucanas: “Será que ele vem de novo para o ano?”.