O verão traz consigo altas temperaturas e o aumento das atividades aquáticas, seja em praias, rios ou piscinas. Entretanto, essa época do ano também registra um número crescente de acidentes graves na coluna, principalmente entre crianças e adolescentes. Isso se deve, sobretudo, aos incidentes relacionados a mergulhos em águas rasas, uma prática aparentemente inofensiva, mas que pode ter consequências devastadoras, como lesões cervicais e até paralisia.
De acordo com o ortopedista e cirurgião de coluna Guilherme Porceban (MD, MSc.), especialista pela FMRP-USP e UNIFESP, essa é uma realidade que precisa de mais atenção, tanto por parte da mídia quanto da sociedade. “Nos últimos dias, atendi um adolescente que sofreu uma fratura-luxação cervical ao mergulhar no lado mais raso de uma piscina que desconhecia. Esse tipo de acidente é mais comum do que se imagina, especialmente no verão, e as consequências impactam drasticamente toda a vida da pessoa”, explica o médico.
Os riscos do mergulho em locais rasos
Ao mergulhar em águas rasas, o impacto direto da cabeça contra o fundo pode gerar traumas na coluna cervical, como fraturas ou luxações. Essas lesões podem comprometer a medula espinhal, resultando em paralisias permanentes, perda de mobilidade ou outras deficiências neurológicas graves. “Em muitos casos, o paciente precisa de intervenção cirúrgica imediata para estabilizar a coluna e evitar danos adicionais, uma vez que ainda não dispomos de tratamentos capazes de recuperar a função de uma medula lesionada”, acrescenta Dr. Porceban.
Além disso, esses acidentes frequentemente atingem adolescentes e jovens adultos, que são mais propensos a realizar atividades de risco em ambientes de lazer. A combinação de imprudência e falta de informação pode transformar momentos de diversão em tragédias.
Prevenção é fundamental
Para reduzir a incidência desse tipo de acidente, é essencial reforçar campanhas educativas e alertar sobre os riscos de mergulhar em locais desconhecidos ou de profundidade inadequada. O Dr. Porceban ressalta algumas medidas de prevenção:
Evitar mergulhos de cabeça em locais onde não se conhece a profundidade.
Verificar previamente o fundo de piscinas, rios ou mares para identificar possíveis obstáculos.
Orientar crianças e adolescentes sobre os riscos envolvidos.
Investir em placas de aviso em áreas públicas com acesso à água.
“Pequenas atitudes podem salvar vidas. É crucial que as pessoas entendam que a diversão não precisa ser sinônimo de risco”, reforça o especialista.
Um alerta que precisa de voz
Apesar de ser um tema recorrente nos consultórios e emergências, o trauma cervical por mergulho em águas rasas ainda é pouco abordado nos meios de comunicação. “É um problema de saúde pública que precisa de mais visibilidade. Campanhas de conscientização podem prevenir acidentes e proteger vidas”, conclui o Dr. Porceban.
Com o aumento das temperaturas e a proximidade das férias, fica o alerta: segurança e prudência devem ser prioridades em qualquer atividade aquática. Afinal, prevenir é sempre melhor do que remediar — principalmente quando a medicina ainda não dispõe de soluções para reparar certas lesões.