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Refletindo Bauman e gestão de tempo

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Atualmente, o significado do termo ‘vida saudável’ segue em direção ao ato de se libertar da falta de tempo e vai além das questões relacionadas à saúde física e mental. Vivemos um certo nível de prontidão diária, que nos torna capazes de tomarmos algumas atitudes, até mesmo drásticas, para termos mais tempo.

Diferentemente dos dias atuais, antigamente, víamo-nos socialmente obrigados a manter relações nada saudáveis com os nossos pares, em ambientes cotidianamente frequentados, como os locais de trabalho, por exemplo.

A resolução dos problemas através do diálogo não era uma prática comum a muitas culturas, e as tecnologias não alcançavam a abrangência das comunicações, hoje interpelada pelo universo digital.

Também não tínhamos maneiras diferenciadas de abrandar situações cotidianas, tampouco de aliviar os problemas que acumulávamos, graças à correria do dia a dia.

Nos dias atuais, nós conquistamos esses parâmetros com a união do raciocínio de inúmeros pensadores/experiências vivenciadas e informações encontradas navegando na internet, mas infelizmente, motivos como excesso de rotina e dispersão de informações, fez com que a pressa crescesse além da disposição de tempo.

O tempo como um ativo inalcançável

Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, costumava afirmar que quando vivemos de maneira instável e sem coesão, nossas vidas passam a adotar o modelo caótico de comportamento.

O autor afirmou, antes de falecer, em 2017, que a dificuldade de gerir o tempo é um dos fatores principais que demarca os grandes problemas do mundo.

“Na maior parte da história da Humanidade, tínhamos basicamente duas formas de organização: o tempo cíclico, que se repete dia após dia, ano após ano, vivido pelas sociedades agrárias, como o Tibete. E o tempo linear, que marcha, move em direção ao futuro, dominante nas sociedades industriais, e que expressa essa ideia de modernidade, progresso”, comenta Bauman.

O jovem de hoje, por exemplo, vive seus dias muito mais aceso do que o jovem de 35 anos atrás, quando a época era menos frenética, e isso dá a ele uma suposta sensação de sabedoria; meninos e meninas atuais, geralmente apresentam modelos de personalidade socialmente adaptáveis e vivenciam grande parte de seu tempo dispostos a curtirem seus momentos com intensidade, e a todo e qualquer custo.

A experiência do jovem comum e atual tem a ver com um tempo que o autor afirma ser o responsável por abortar o tempo livre, pois o jovem de hoje foi consumido por um boom de sensações intermináveis, como o consumo de imagens, sons, gostos e por tudo aquilo que pode ser tocado e manualmente utilizado.

O autor dizia que a experiência quanto à passagem do tempo depende do meio social em que cada um está inserido, já que cada cultura vivencia maneiras diferentes de interpretar a rotina, a exemplo da sociedade tibetana, que é calma e tranquila, em comparação com a sociedade de São Paulo, capital, que é rápida e frenética.

Mas, hoje, relembra o filósofo, vivemos um modelo de tempo sem seta e nem direção, com muitos momentos ligados frouxamente ao passado e ao futuro, e que se dissipa constantemente em uma sucessão caótica de acontecimentos, fazendo com que as pessoas acreditem na necessidade de vigilância e observação constante de si mesmas e do outro. “Esse tempo da modernidade líquida gera ansiedade e a sensação de ter perdido algo. Não importa o quanto tentemos, nunca estaremos em dia com o que aparentemente nos é oferecido”, reitera o autor, complementando que estamos a todo tempo correndo atrás de alguma coisa, só que ninguém sabe do quê.

Bauman afirmava que segurança sem liberdade é escravidão e liberdade sem segurança é um completo caos. Para entendermos esse conceito de maneira simplificada, podemos pensar que é como se tivéssemos que resumir nossas vidas à incapacidade de fazer e planejar nada, nem mesmo na possibilidade de experimentarmos sonhar com isso.

O tempo é um modelo de permanência perdido no espaço e do qual grande parte da humanidade depende constantemente. Para termos o tempo à nossa disposição é preciso disponibilizar espaço. Uma leve compreensão do que seria viver uma vida plena respirando normalmente.

Muitas pessoas vivem correndo porque têm pressa e pra essas pessoas, correr é normal; mas… pressa de quê? E pra quê? Quem corre demais, deve estar conscientemente apto a entender que perder o ar é consequência.

Lívia Ikeda Martins é comunicadora social, especialista em análise de marketing e comunicação organizacional e redatora.

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