O período de festas de fim de ano costuma ser marcado por uma combinação perigosa: redução significativa da atividade física associada ao aumento do consumo de açúcar, bebidas alcoólicas, alimentos ultraprocessados, ricos em gordura, sal e conservantes. Segundo especialistas, essa mudança abrupta no estilo de vida pode desencadear um verdadeiro “choque metabólico” no organismo, elevando inflamação sistêmica, colesterol, pressão arterial e o risco de eventos cardiovasculares.
A interrupção ou redução do exercício físico, mesmo que por poucas semanas, já é suficiente para diminuir a sensibilidade à insulina, reduzir o gasto energético basal e favorecer o acúmulo de gordura visceral — um dos principais motores da inflamação crônica.
“O corpo entra rapidamente em modo inflamatório quando o movimento diminui e a ingestão calórica aumenta. Esse efeito é mais rápido do que as pessoas imaginam”, explica Dr. Flavio Mitidieri Ramos.
Açúcar, gordura e ultraprocessados: gatilhos inflamatórios
O consumo excessivo de doces, sobremesas, bebidas açucaradas, frituras, embutidos e conservas estimula picos de glicemia, aumento de triglicerídeos e elevação do colesterol LDL. Esses fatores ativam mecanismos inflamatórios que afetam diretamente o endotélio vascular, favorecendo o desenvolvimento da aterosclerose.
“Não é apenas uma questão de calorias. Açúcar, gorduras ruins e conservantes atuam como gatilhos inflamatórios diretos, especialmente quando associados ao sedentarismo”, alerta o médico.
Picos hipertensivos e sobrecarga cardiovascular
O excesso de sal, álcool e alimentos industrializados pode provocar retenção de líquidos e elevação aguda da pressão arterial. Em pessoas predispostas — como hipertensos, diabéticos, obesos ou com histórico familiar — esse cenário aumenta significativamente o risco de arritmias, infarto e AVC.
Dr. Flavio destaca que “é comum observarmos picos hipertensivos nas semanas pós-festas. Muitas vezes, o paciente só descobre que tem pressão alta depois desse período”.
A soma de sedentarismo, má alimentação e álcool favorece um estado inflamatório sistêmico silencioso, associado à piora da função vascular, aumento da resistência à insulina e desregulação hormonal. Esse ambiente metabólico é terreno fértil para doenças cardiovasculares.
“A inflamação não dói, não aparece de imediato, mas vai se acumulando. Quando o evento cardiovascular acontece, ele costuma ser a ponta do iceberg”, ressalta.
Prevenção: pequenas atitudes fazem grande diferença
Manter algum nível de atividade física, mesmo durante as festas, priorizar alimentos naturais, reduzir açúcar, álcool e ultraprocessados e manter hidratação adequada são medidas fundamentais para reduzir riscos.
“Não se trata de perfeição, mas de consciência. Continuar se movimentando e evitar excessos repetidos protege o coração e o metabolismo”, conclui Dr. Ramos.
Sobre Dr. Flavio Ramos
Dr. Flavio Ramos, endoscopista formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro titular da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED). Com mais de 20 anos de experiência, o médico é professor renomado do Instituto de Pesquisa e Treinamento em Cirurgia Minimamente Invasiva (IRCAD), onde leciona há mais de sete anos, Mestre pela Universidade de Lisboa e também é diretor da Endocare (nova fase da tradicional Endodiagnostic) ao lado do Dr. Felipe Matz.