A influência digital negativa nos jovens tem sido uma preocupação constante e crescente, devido aos impactos adversos em várias áreas de suas vidas. O uso excessivo das redes sociais e a exposição a padrões irreais de vida podem contribuir para o aumento da ansiedade e da depressão entre os jovens, o que pode ter consequências graves para a saúde mental. O desenrolar da vida acontece dentro de um processo relativamente lento e não linear, diferente das redes sociais onde há uma variedade de informações e todo tipo de estímulos, de forma fácil e rápida. Mas que tipo de conteúdo os jovens estão consumindo diariamente?
As redes sociais frequentemente promovem um ideal de vida “perfeita”, levando os jovens a sentirem pressão para corresponder a esses padrões irreais de sucesso, beleza e felicidade. “Muitos jovens não estão cientes dos riscos de privacidade online, compartilhando informações pessoais que podem ser exploradas por terceiros, podendo ser expostos a conteúdo inadequado, como violência, pornografia e discurso de ódio, que pode afetar negativamente sua visão de mundo e comportamento em uma fase da vida onde ainda estão pavimentando todo seu alicerce emocional. Nesse período as relações sociais são muito importantes”, explica Renata Bento. Psicanalista, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro e . Perita ad hoc do TJ/Rj – RJ. Assistente Técnica em processo judicial.
O vício em dispositivos digitais e redes sociais pode levar os jovens a passar horas excessivas online, prejudicando seu tempo de estudo, sono e interações pessoais e leva-lo ao isolamento social, uma vez que os jovens podem preferir interações virtuais em detrimento das interações face a face.
Outro ponto importante é que alguns jovens podem desenvolver uma dependência de validação social nas redes sociais, buscando constantemente as famosas curtidas, comentários e aprovação de seus pares. “As interações nas redes sociais tendem a ser mais superficiais do que as interações presenciais, o que pode levar os jovens a desenvolver relacionamentos menos significativos e menos profundos. Tem-se a ilusão da relação social online, mas apresentam dificuldade na interação social na presença física do outro, o que é completamente diferente. On-line pode se estar com o outro, mas nunca na presença do outro”, aponta Renata Bento.
A exposição à luz azul emitida por dispositivos eletrônicos antes de dormir pode interferir no sono dos jovens, levando a distúrbios do sono e a constante interrupção causada por notificações e o hábito de verificar constantemente dispositivos podem dificultar a concentração e a atenção dos jovens.
Quando os jovens estão fisicamente presentes em interações sociais, o uso constante de dispositivos para verificar redes sociais pode ser percebido como falta de atenção e respeito pelos outros, há dificuldade em se estar presente na presença.
É importante notar que o impacto das redes sociais pode variar de pessoa para pessoa e depende da quantidade de tempo gasto, do conteúdo consumido e da maneira como os jovens lidam com as experiências online.
Para mitigar esses impactos negativos, é fundamental promover a conscientização sobre o uso responsável das redes sociais, estabelecer limites de tempo de tela, incentivar a comunicação aberta sobre as experiências online e promover relacionamentos saudáveis offline. Além disso, os pais e educadores desempenham um papel crucial na orientação dos jovens sobre o uso adequado das redes sociais de forma saudável e responsável. “A curiosidade e a falta de noção dos perigos da internet têm levado os jovens a navegar sem proteção por lugares que os próprios adultos/pais/educadores desconhecem”, explica Renata Bento.
Existem sites e aplicativos onde crianças e jovens podem se conectar de forma rápida e fácil, sem nenhum tipo de cadastro ou confirmação de identidade do indivíduo. Podem trocar fotos e vídeos com pessoas aleatórias, sem que passe por qualquer filtro de privacidade e segurança, e é essa a ideia desses sites, como dito por eles “talk to strangers” ou em português, “fale com estranhos”. É imprescindível que os pais se informem, supervisionem e orientem o consumo online dos filhos e não se deixem ofuscar pela ilusão de que os filhos são ingênuos e incapazes de buscar esse tipo de conteúdo.