A carência de médicos nos Estados Unidos está forçando uma transformação silenciosa, porém profunda, nas regras que regem o exercício da medicina no país. Com projeções que indicam um déficit de até 124 mil profissionais até 2034, segundo entidades do setor, governos estaduais estão flexibilizando exigências e criando mecanismos para atrair médicos formados no exterior — um movimento que, segundo especialistas, representa uma janela de oportunidade inédita para brasileiros qualificados.
Nos últimos meses, Texas e Flórida assumiram a dianteira dessa mudança. No Texas, a lei HB 2038, conhecida como Doctor Act, entrou em vigor em setembro de 2025 e dispensa a exigência de residência médica nos EUA para profissionais formados em instituições estrangeiras, desde que tenham exercido a medicina por, no mínimo, quatro anos antes do pedido de licença. A Flórida seguiu o mesmo caminho, com o Senate Bill 7016, aprovado recentemente, adotando critérios quase idênticos.
Essas novas regras permitem que médicos com experiência comprovada, histórico ético e fluência em inglês possam se habilitar para trabalhar de forma regular em solo americano — um cenário que, segundo o advogado e professor Dr. Vinicius Bicalho, cidadão americano, membro da American Immigration Lawyers Association (AILA) – especialista em imigração, representa “um divisor de águas” no acesso de médicos estrangeiros ao mercado americano.
“Essas mudanças abrem oportunidades em várias frentes, não apenas profissionais. Há também o aspecto de qualidade de vida, segurança e previsibilidade que os Estados Unidos oferecem a famílias de profissionais de saúde qualificados”, afirma o Dr. Bicalho.
De acordo com ele, o movimento dos estados reflete uma estratégia coordenada para suprir carências críticas no sistema de saúde americano — especialmente em áreas rurais e de difícil acesso, onde a escassez é mais severa.
“Há uma combinação rara: de um lado, os Estados Unidos enfrentam uma escassez urgente de médicos; de outro, muitos profissionais estrangeiros qualificados buscam novas oportunidades. Os brasileiros, em especial, se destacam pela dedicação, empatia e comprometimento com o paciente. Esse alinhamento de interesses cria um cenário muito favorável para quem está preparado”, explica o advogado.
Além de Texas e Flórida, outros estados como Iowa, Virgínia, Illinois, Oklahoma e Carolina do Norte já aprovaram legislações semelhantes ou têm propostas em andamento. Segundo dados da Federation of State Medical Boards (FSMB), ao menos 18 estados hoje permitem algum tipo de licenciamento — completo ou provisório — para médicos formados fora dos EUA, sem a obrigatoriedade da residência médica americana, desde que cumpram requisitos específicos de qualificação.
Para médicos brasileiros, o momento é visto como particularmente favorável. “O profissional que se planeja com antecedência — investe no idioma, regulariza documentos e entende as exigências estaduais — está um passo à frente. Hoje, há caminhos legais claros para atuar nos EUA, algo que há poucos anos parecia distante”, completa o Dr. Bicalho.
Mais do que uma oportunidade de trabalho, essa nova onda regulatória representa uma mudança estrutural na política de imigração profissional americana. E para muitos brasileiros, ela pode significar o início de uma nova fase de vida.