Nascida em Ilhéus, na Bahia, Jade Alcântara Lobo, neta de marisqueira e ativista dos direitos humanos, ganha o mundo e se destaca no cenário internacional ao participar do World Anthropological Union Congress 2024, que começa hoje e vai até o dia 15 de novembro em Joanesburgo, África do Sul. Com um tema central de “Reimaginando o Conhecimento Antropológico: Perspectivas, Práticas e Poder”, o evento reunirá pesquisadores de diversas partes do mundo para discutir questões prementes relacionadas à antropologia e suas intersecções com crises ambientais e reivindicações territoriais.
Jade é doutoranda em Antropologia Social na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), membra do ForbesBlk, e traz uma bagagem de experiências em sua trajetória acadêmica e ativista. Sua formação inclui uma bolsa de estudos no Afro-Latin American Research Institute na Harvard University, onde adquiriu um Certificado em Estudos Afro-latino-americanos e participou de eventos apresentando suas pesquisas. Jade é reconhecida por sua atuação em temas como relações étnico-raciais, povos tradicionais, desigualdade de gênero e afroindígenas.
Autora do livro Para Além da Imigração Haitiana: Racismo e Patriarcado como Sistema Internacional e, editora e coordenadoda da Revista Odù: Contracolonialidade e Oralitura, já foi convidada para publicar seus artigos na Faculdade de Direito da Universidade de Oxford, contribuindo para discussões sobre criminologia e direitos humanos. Jade também atuou como coordenadora de pesquisa do Instituto de Defesa das Religiões de Matriz Africana (IDAFRO) entre 2022 e 2023, onde liderou uma equipe diversificada composta por 12 profissionais negros, incluindo psicólogos, engenheiros, advogados e antropólogos. Durante sua gestão coordenou um levantamento abrangente sobre a situação documental e os danos socio-culturais sofridos pelos Povos e Comunidades de Tradição Religiosa Ancestral de Matriz Africana da Região 02 da Bacia do Rio Paraopeba, que foram severamente impactados pelo desastre socio-tecnológico da Vale.
Durante o congresso, Jade apresentará seu trabalho solo intitulado “O Papel da Antropologia na Advocacia pela Reparação das Comunidades Tradicionais no Brasil”, onde discutirá como a antropologia pode apoiar a busca por reparação junto a povos tradicionais. Além disso, ela moderará o grupo de pesquisa “Conhecimento Ecológico dos Povos Tradicionais em Meio à Crise Ambiental e Políticas de Conservação”, no qual irá discutir as pesquisas de especialistas de diversas partes do mundo, em parceria com Nathalia Dothling, doutoranda na The University of Queensland, na Austrália. Por fim, Jade e Nathalia também irão apresentar uma mesa redonda com o título “Crise Ambiental, Desastres e Reivindicações Territoriais: o papel da antropologia com comunidades tradicionais na reimaginação de mundos”, que irá explorar como a antropologia pode colaborar na valorização do conhecimento ecológico das comunidades tradicionais em meio a crises ambientais.
“Minha participação no congresso é uma oportunidade de amplificar as vozes das comunidades tradicionais e discutir como a antropologia pode contribuir para a reparação de injustiças históricas”, afirma Jade. Ela acredita que o conhecimento dos povos tradicionais é fundamental para enfrentar os desafios contemporâneos relacionados às crises ambientais.
O evento promete ser um marco na troca de saberes e experiências entre pesquisadores e ativistas de todo o mundo, destacando a relevância da antropologia na construção de soluções inclusivas e sustentáveis para os desafios atuais.