Uma escrita aforismática que faria Nietzsche gozar: uma resenha do Porca Gorda, de Jéssica Balbino

Uma escrita aforismática que faria Nietzsche gozar: uma resenha do Porca Gorda, de Jéssica Balbino

Redação Gazeta24h
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May Solimar


Uma autoficção radical, do jeitão que eu gosto, pra deixar Louis e Ernaux prostrados diante das dores do terceiro mundo


Por Alan dos Santos (Lado B Literário) 

Uma autoficção radical, do jeitão que eu gosto, pra deixar Louis e Ernaux prostrados diante das dores do terceiro mundo. Esse é o Porca Gorda, de Jéssica Balbino (Barraco Editorial). 

Um desabafo de altíssima qualidade literária, sem condescendência consigo e com o próximo, sem o mínimo flerte com qualquer positividade, um chute na bunda da galera do body positive. 

Um relato em primeira pessoa sobre o seu corpo marginalizado, fora dos padrões estéticos dominantes, transformado em campo de batalha. 

Corpo não é templo, corpo é campo de batalha! 

Gostei por se tratar de um relato de alguém que aprendeu a gozar e desejar. 

É raro ver pessoas assim: que superam o desejo de reconhecimento e operam o reconhecimento do próprio desejo. 

Eu, que nunca paguei um dia de academia (o futuro a deus pertence) e que rejeito a indústria fitness e a estética associada a ela, me deliciei com a leitura, apesar do desconforto que o texto gera, inevitavelmente. 

É um texto perturbador e libertador. 

Não é inútil dizer: uma vida qualificada não tem nada a ver com magreza. 

Antes, tem a ver com redução da jornada de trabalho, com relações humanas saudáveis, com distribuição de renda, com acesso à cultura e com uma ética de apoio mútuo. 

Essa cultura do “de hoje está pago” é radicalmente diferente. 

Curioso esse significante: pagar. Ouço isso e me vem à mente a lógica do Capital, com suas dívidas (econômicas e psíquicas) e pagamentos. É um clichê sociológico, mas um clichê incontornável e preciso. 

Por fim, círculos progressistas também podem ser tóxicos, e algumas das experiências de Balbino mostram isso. 

Um baita livro. Muitíssimo bem escrito. Um livro que já nasceu clássico. 

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