Reconhecer que está sendo vítima de abuso psicológico não é uma tarefa fácil. Na maior parte das vezes, é muito doloroso, complexo, muitas vezes com sentimentos de vergonha para a pessoa, mas sobretudo, porque esse mecanismo que faz com que uma pessoa adulta, entre e permaneça em uma relação abusiva, é inconsciente. Cada situação é única e as razões que mantém essas relações, podem ser das mais variadas, devido a vários fatores psicológicos envolvidos.
Relações futuramente abusivas tendem a se iniciar em um clima de conto de fadas, esse clima se mistura a paixão, onde o par amoroso se basta, se estabelecendo uma dupla onde um é o necessitado e o outro o salvador e cuidador, realizador de sonhos, fazendo com que o necessitado(a)/vítima seja dependente desse afeto, desse cuidado. Cria-se ilusoriamente uma ideia de completude nessa relação. Nada falta, exceto se o outro faltar. .
Um dos primeiros sinais de abuso psicológico é a alteração na dinâmica de poder no relacionamento. “O agressor tentará estabelecer controle sobre a vítima, diminuindo sua autonomia e independência. Isso pode ser feito através de críticas constantes, desvalorização de suas opiniões, decisões ou conquistas, e desestímulo a qualquer tipo de atividade que não envolva o agressor.”, explica Renata Bento, psicanalista, membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, Perita ad hoc do TJ/Rj – RJ. Assistente Técnica em processo judicial.
As táticas manipuladoras e coercivas utilizadas na relação, são sutis e gradualmente destroem ainda mais autoestima e confiança em sí mesma, tornando difícil identificar o abuso em curso.
É fundamental estar atento a certos sinais e padrões que podem indicar a presença desse tipo de violência. E principalmente conseguir observar como você se relaciona afetivamente, justamente porque esses padrões tendem a se repetir ao longo da vida em cada nova relação, em cenários diferentes, personagens diferentes, mas preservando o mesmo enredo
A força emocional de uma pessoa reside na capacidade em perceber a fragilidade humana e conseguir lidar com as próprias situações de vulnerabilidade. Isso implica em reconhecer suas fraquezas, limites, impotência e dificuldades. Essa pessoa reconhecidamente “forte”, é vista como alguém indestrutível, invencível, incansável, como se não tivesse emoção e, portanto, não sentisse as dores emocionais que nos impacta diariamente. Isso vai das coisas mais simples do cotidiano, como por exemplo, engolir o choro, o isolamento quando está triste, ou da dificuldade em contar suas fragilidades para alguém, e ser visto como alguém fraco. “O distanciamento das próprias emoções atrapalha o processo de amadurecimento e empurra para o estabelecimento de relações amorosas adoecidas”,ressalta Renata Bento..
Reconhecer que estamos sofrendo abuso psicológico requer sensibilidade e autoconsciência. É importante confiar na intuição, e estar disposto a confrontar a realidade da situação. Buscar apoio de amigos, familiares ou profissionais capacitados, como terapeutas, pode ser fundamental para obter uma perspectiva externa e avaliar a saúde do relacionamento.
Além disso, educar-se sobre relacionamentos saudáveis e estabelecer limites claros pode ajudar a evitar o abuso psicológico desde o início. Conhecer os sinais de alerta, como os mencionados acima, pode ser um passo importante para identificar comportamentos abusivos e tomar medidas para proteger nossa saúde mental e bem-estar.
Uma pessoa forte possui uma boa integração de sua personalidade, isto é, é capaz de lidar com os desafios da vida de forma saudável e adaptativa, com boa capacidade de enfrentar conflitos, adversidades e principalmente reconhece suas próprias motivações e padrões de comportamento. Ela não nega ou reprimi suas emoções, mas também não permite ser dominada por elas. Essa força não é fixa ou imutável, mas sim, um processo contínuo de amadurecimento e desenvolvimento pessoal.
É sempre bom lembrar, que não somos seres maravilhosos, somos humanos, mas temos coisas boas a oferecer, e por isso, a boa relação é aquela que aciona em nós, a nossa melhor parte.
