Seja com a cremosidade do banho-maria em fogo baixo ou com os furinhos criados por forno alto, cada versão do pudim reflete métodos específicos e a herança culinária que atravessa gerações
Da infância ao almoço de domingo, passando por festas de aniversário, ceias e confraternizações, o pudim sempre marca presença. Mas, por trás da sobremesa, existe uma das maiores controvérsias da confeitaria caseira: afinal, o pudim perfeito deve ser lisinho ou com furinhos?
A surpreendente história do pudim: de receita salgada a sobremesa querida
Os primeiros registros remontam à Grécia Antiga, e pasme: o pudim era um prato salgado, feito com sangue e vísceras de porco. Ao longo dos séculos, a receita viajou pela Europa e foi reinterpretada em diversos países, inclusive com versões doces, como as que surgiram em Portugal, a partir do século XVI.
Foi justamente nos conventos portugueses que nasceu o que seria o nosso pudim: uma mistura delicada de ovos, leite, açúcar e baunilha. Com a chegada do leite condensado, no século XIX, o doce ganhou um sabor mais marcante.
Furinhos ou lisinho? A polêmica que divide opiniões
Quem já preparou pudim em casa sabe que o resultado pode variar: às vezes, ele sai com uma textura bem lisa, quase espelhada; em outras, vem cheio de furinhos. Essa diferença é mais do que estética – ela impacta também na consistência e no sabor da sobremesa.
Para muitos, os furinhos são parte do charme: criam leveza e uma aparência caseira. Já para os mais puristas (e para muitos chefs renomados), o pudim ideal deve ter superfície lisa e corte uniforme, sem nenhum poro visível.
A chef Paola Carosella, por exemplo, já declarou nas redes sociais que os furinhos são um “defeito de cozimento”. Segundo ela, um bom pudim precisa ser denso, cremoso e homogêneo. Mas, claro, quando o assunto é comida afetiva, gosto é gosto – e não há regra que se sobreponha à memória de uma receita feita por alguém querido.
A ciência por trás dos furinhos
Os furinhos no pudim não surgem por acaso – eles têm uma explicação química. Durante o preparo, ao bater ou misturar os ingredientes com muita força, o ar é incorporado. Quando a massa é levada ao forno em temperatura alta, as bolhas se expandem e ficam presas no interior do doce, formando os famosos furinhos.
Além disso, a coagulação rápida das proteínas dos ovos também interfere na textura. Quanto mais alta a temperatura, mais rapidamente a coagulação acontece, o que cria uma estrutura porosa.
Como acertar a textura perfeita: dicas práticas para todos os gostos
Para um pudim digno de vitrine, siga os passos para evitar os furinhos: mexa com batedor de arame, evite incorporar ar, peneire a mistura e asse em temperatura baixa. Mas, caso faça parte do time que adora os furinhos, pode seguir o caminho oposto – bata no liquidificador por mais tempo e asse em temperatura um pouco mais alta.
Uma receita clássica e infalível é a de pudim de leite condensado sem furinhos, feita com apenas três ingredientes: leite condensado, ovos e leite. A calda de caramelo dá o toque final e pode ser feita com açúcar derretido lentamente, sem pressa.
Quer ousar? Existem versões deliciosas de sabores diferentes, como de pão, banana, coco, chocolate e até panetone. Cada um traz uma textura, um sabor e uma história, mas todos carregam o mesmo espírito de afeto à mesa.