A investigação das doenças psicossomáticas comprova uma premissa fundamental: corpo e mente atuam de maneira integrada. Quando há sofrimento físico, a esfera mental também é impactada; inversamente, dificuldades emocionais ou psicológicas podem manifestar-se por meio de sintomas físicos.
Sob essa perspectiva, define-se a doença psicossomática como um distúrbio corporal originado ou agravado por fatores emocionais ou psicológicos. Assim sendo, é imprescindível compreender que o processo de adoecimento supera o aspecto físico – um corpo doente reflete um estado mental desequilibrado.
Nesse contexto, os distúrbios capilares não devem ser considerados apenas sob a ótica do folículo piloso, mas como parte de uma abordagem que reconhece o indivíduo como uma unidade integrada de corpo e mente no processo de enfermidade.
Carl Gustav Jung, renomado psicanalista suíço, em suas obras, já destacava essa conexão: “Um funcionamento inadequado da psique pode causar tremendos prejuízos ao corpo, da mesma forma que, inversamente um sofrimento corporal pode afetar a psique, pois a psique e o corpo não estão separados, mas são animados por uma mesma vida.
Assim sendo, é rara a doença corporal que não revele complicações psíquicas, mesmo quando não seja psiquicamente causada.”
O couro cabeludo interage com o cérebro, o sistema nervoso, o sistema imunológico da pele de forma ativa. Indivíduos apresentando adoecimento no couro cabeludo — como calvície, psoríase, eflúvio telógeno, alopecia areata, dermatite seborreica e alopecias cicatriciais — podem ter suas manifestações sobrevindas ou aumentadas por fatores emocionais.
Além disso, esses indivíduos podem desenvolver ou experimentar agravamento de condições psiquiátricas devido ao impacto psicológico intenso ocasionado por determinado distúrbio, como uma queda capilar intensa.
Por outro lado, pacientes acometidos por transtornos psiquiátricos — incluindo transtornos de humor, transtornos de ansiedade, esquizofrenia e transtornos de personalidade — frequentemente apresentam distúrbios no couro cabeludo.
Entre as mais frequentes encontram-se tricotilomania (compulsão por arrancar os cabelos), tricodinia (dor no couro cabeludo) e tricotilofagia (hábito de mastigar ou ingerir fios capilares).
A célebre frase atribuída a Hipócrates — “É mais importante conhecer a pessoa que tem a doença do que a doença que a pessoa tem” — reflete a relevância de uma abordagem holística no tratamento capilar, priorizando o indivíduo em sua totalidade ao invés de focar exclusivamente na enfermidade isolada.
A ciência comprova que o estresse crônico pode modular a expressão gênica, influenciando diretamente o funcionamento do organismo. Por essa razão, em minhas consultas de tricologia realizo uma avaliação cuidadosa não apenas dos aspectos físicos, mas também do estado mental e emocional do paciente.
A transparência durante a consulta revela-se essencial. Qualquer informação omitida pelo paciente — seja por receio, desconhecimento ou minimização do problema — pode comprometer tanto o diagnóstico quanto o sucesso do tratamento, resultando em tratamentos insatisfatórios.
A verdade compartilhada entre profissional e paciente constitui a base para um plano terapêutico eficaz, permitindo intervenções personalizadas que considerem as raízes do problema e seus componentes psicológicos.
Tratar a causa primordial, ao invés de apenas os sintomas, demanda de uma equipe multidisciplinar, confiança mútua e comunicação aberta. Somente assim é possível alcançar respostas consistentes e duradouras na saúde capilar e no bem-estar integral do paciente.
Denise Ferrer
CBO/MTE nº 3221-30
Tricologista e terapeuta capilar
Especialista em Cosmetologia e Saúde Integrativa
Membro Oficial da Academia Brasileira de Tricologia – ABT
Brasília/DF – São Paulo/SP