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Experiência com a plataforma estrangeira evidenciou também a necessidade de uma mídia voltada exclusivamente para usuários do Brasil
Mauricio Andriani
O Brasil é conhecido por ser um dos polos com os maiores números globais de engajamentos quando se trata de redes sociais. Desde o Orkut, passando pelo Facebook, o Twitter e, hoje, o Instagram, a comunidade nacional só cresceu e já assume a ponta de diversos rankings de números de usuários. Diante deste cenário, com uma procura massiva dos internautas daqui por essas plataformas, paira um questionamento: por qual motivo o país ainda não teve uma mídia para chamar de sua?
Para entender esta realidade, é necessário compreender as movimentações protagonizadas pelos milhões de brasileiros que têm acesso à internet diariamente. Afinal, o mundo é movido por tendências e são elas as principais responsáveis por moldar o consumo em cada canto do planeta, seja para o bem, com facilidade de se obter informações rápidas, ou para o mal, com os discursos de ódio e as censuras.
Um exemplo de quando este comportamento massivo pôde ser observado no Brasil foi quando o Facebook, ainda nos seus primeiros anos de vida, destronou o Orkut como a rede mais acessada do país em 2012 com 36 milhões de visitantes únicos, segundo a comScore. O efeito foi tão significativo que até hoje o site continua no topo no quadro nacional com 110 milhões de usuários ativos, apontou o levantamento da Statista no ano passado.
*Embate entre o X e a Justiça “criou” rede social majoritariamente brasileira*
Em agosto de 2024, o STF (Supremo Tribunal Federal) ordenou o bloqueio das operações do X (ex-Twitter) em todo país com a justificativa de que a empresa não podia atuar no território sem um representante legal. Em meio aos debates acalorados sobre o tema, os internautas impedidos de entrar na mídia recorreram ao Bluesky, uma alternativa estrangeira em ascensão, mas que ganhou um “rosto brasileiro” com a necessidade desse público pelos microblogs. Ao todo, foram registradas 15 milhões de contas em pouco menos de dois meses na plataforma, que teve de se desdobrar para atender as demandas vindas do Brasil.
O episódio deu uma “demonstração” do que seria uma rede social tomada por usuários daqui, mas escancarou os problemas de, novamente, ter de recorrer a um caminho do exterior e provocar desencontros ao fragmentar a audiência. Há, portanto, um vácuo de mercado a ser explorado pelas empresas que podem apostar na identificação com o perfil nacional como trunfo para desbancar as grandes concorrentes. Ela pode acontecer por meio do incentivo às especificidades dos povos, da pluralidade racial, religiosa e até das preferências individuais no âmbito esportivo no meio digital.
Os números mostram que o público brasileiro é formado por pessoas que veem as plataformas como companheiras fieis do dia-a-dia, e o seu movimento é natural e justificado diante das ofertas do estrangeiro. Porém, diante das experiências recentes, já é possível compreender a necessidade de uma “alternativa caseira”, onde a diferença é valorizada e, não, vítima de bloqueios por empresas que pouco — ou nada — conhecem da verdadeira essência do país.
Mauricio Andriani é sócio do Brazuca, primeira rede social 100% brasileira._
*Sobre o Brazuca*
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