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Pirarucu avança na indústria da moda

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Fotos Divulgação: Yara Couros
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Inovações com couro de peixes, “café” de açaí e óleo de pracaxi mobilizam startups do Amapá com investimento do PPBio

Sucesso na gastronomia, o pirarucu – maior peixe de água doce do planeta, nativo da Amazônia – entra no radar dos negócios devido a um novo atrativo: a pele, que hoje é descartada no lixo pelos produtores e ganha valor como couro na indústria da moda. “O diferencial está no impacto positivo ao reunir soluções tanto para os resíduos que poluem o ambiente como para o aumento da renda com atividades sustentáveis na floresta”, afirma Frank Portela, cofundador da Yara Couros, no Amapá.

O empreendedor já atua na fabricação de sapatos e bolsas de couro tradicional de gado e agora busca padronagens da natureza fornecidas pela produção da pesca e da piscicultura, incluindo espécies como pescada-amarela, corvina e tilápia. O novo negócio baseado na biodiversidade planeja processar até 2 mil peles por mês, também para o mercado de design como revestimento de móveis de alto padrão. Na primeira fase, uma planta-piloto está sendo instalada pela startup em Santana (AP) para finalizar os testes das tecnologias de curtume e validar o produto em maior escala, com R$ 2 milhões de investimento captados por meio do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio).

A iniciativa é uma política pública voltada ao repasse de investimentos obrigatórios das empresas em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), conforme a Lei de Informática. Para atingir o raio de abrangência da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), que visa promover o desenvolvimento da Amazônia Ocidental (Amazonas, Roraima, Rondônia e Acre) e do Amapá, o programa se expande para além da capital amazonense, diversificando aportes em projetos e negócios inovadores que surgem em toda a região no esteio da importância da Amazônia para o País e o planeta. “As realidades variam de um estado para outro, com diferentes potenciais, demandas e desafios”, afirma Paulo Simonetti, líder de captação e relacionamento com o investidor do PPBio.

Coordenado pelo Idesam, ONG sediada em Manaus com foco na conservação e desenvolvimento sustentável, o PPBio soma R$ 91 milhões em aportes por 34 empresas investidoras, com 31 projetos em execução ou já concluídos. São principalmente bionegócios que solucionam gargalos das cadeias desde a origem na floresta – como boas práticas de manejo, capacidade de fornecimento, preços e padrões de qualidade – de modo que óleos vegetais, açaí, castanha e outros produtos cheguem na ponta final aliando cultura tradicional e visão de mercado. “No Amapá, a cena local do empreendedorismo e inovação está fervilhando de bons projetos”, aponta Simonetti.

No caso do pirarucu, carro-chefe da Yara, um dos principais desafios da inovação é vencer barreiras de custo, com a difícil logística amazônica, e alcançar viabilidade de preços para remuneração justa de fornecedores na ponta inicial da cadeia. O objetivo é replicar curtumes de couro de peixes pela Amazônia e permitir preços mais acessíveis para essa novidade nas vitrines da moda em centros mais distantes, com geração de impacto positivo na floresta.

Com 74% do território coberto por floresta tropical, o Amapá é dono de expressiva fonte de insumos para a bioeconomia como vetor de desenvolvimento. “Queremos transformar problema ambiental em solução e valor no mercado”, enfatiza Thiago Monteiro, CEO da Amazon BioFert, empresa que tem como matéria-prima o caroço do açaí, gerado em grandes quantidades como resíduo após a retirada da polpa para consumo. Com o material, a startup, sediada em Macapá (AP), produz biofertilizante e condicionador de solo que aumentam a produtividade agrícola em até 50%, permitindo maior retenção de nutrientes e menor desperdício no uso de insumos.

Baseada na tecnologia de biochar (biocarvão), a inovação representa maior acesso a insumos agrícolas. “Um dos maiores gargalos da região é a falta de fertilizantes devido ao distanciamento dos centros de distribuição do País”, explica Monteiro. Segundo ele, além da questão logística, as características do clima e solos amazônicos normalmente exigem reposição de nutrientes para a agricultura, mas, como apenas 30% deles são absorvidos, a tendência é de uso indiscriminado de aditivos químicos.

O açaí – maior cadeia produtiva da floresta na Amazônia – tem produção em torno de 1,5 milhão de toneladas por ano na Região Norte, de acordo com o IBGE. Somente no Amapá, onde é expressivo o hábito do consumo do fruto pela população, dados oficiais indicam a geração de 9 mil toneladas por ano de caroço como resíduo, mas a estimativa é de um número real três vezes maior, destinado a lixões e terrenos baldios ou à queima como carvão em olarias.

“Na forma de carvão ativado, obtido por alta temperatura sem queima, o material funciona como uma espécie de ímã, com maior retenção de nutrientes”, diz o empreendedor, que participou do programa Inova Amazônia, do Sebrae, para fazer os primeiros testes, em 2022. Atualmente, o produto é vendido em supermercados para uso em jardinagem, e o projeto, com o investimento do PPBio, é aperfeiçoar a tecnologia visando aumentar a capacidade produtiva para 32 toneladas mensais e atender à agricultura familiar.

Na busca de soluções para o resíduo de seu processamento, o açaí centraliza inovações também como bebida aromática, na forma de “café”, como no caso da startup amapaense Engenho. “Em parceria com pesquisadores da Universidade do Estado do Amapá, o desafio inicial foi eliminar fibras indesejáveis e aperfeiçoar sabor e aparência”, conta o CEO, Lázaro Gonçalves. Após protótipo contendo alta concentração de vitaminas, minerais e antioxidantes, a produção do “café” de açaí será modernizada com recursos captados via PPBio, no plano de atingir 9 toneladas por mês após o primeiro ano.

Além de compor blends com 60% de caroço de açaí e 40% café tradicional, a expectativa para o produto, já presente em supermercados da região, é a internacionalização para mercados do Japão e Alemanha, em busca de alimentação saudável com origem na floresta em pé. “Como pioneiros, saímos na frente da concorrência com o desenvolvimento do próprio maquinário e demais tecnologias”, destaca Gonçalves.

No caso da startup Inova Manejo, também do Amapá, apoiada por investimento de empresas da Zona Franca de Manaus, a novidade está no óleo de pracaxi. De alta demanda pela indústria de cosmético, o produto mobilizou pesquisadores da Embrapa e comunidades extrativistas para o desenvolvimento de maquinário capaz de processar essas sementes para extração do óleo com maior eficiência e menor custo. “Além de substituir peças de madeira por aço, com a função de melhorar a qualidade do produto, a nova prensa utiliza sistema hidráulico para facilitar e reduzir o esforço físico do manuseio artesanal, feito normalmente pelas mulheres das comunidades”, explica o empreendedor amapaense Anderson Vasconcelos.

Com recursos captados por meio do PPBio, a tecnologia está sendo aperfeiçoada para aumentar o rendimento, com capacitação técnica às comunidades até a etapa de comercialização do óleo. “É preciso aliar conservação e uso sustentável da floresta com eficiência produtiva”, completa Vasconcelos.

Sobre o PPBio

O Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio) foi idealizado pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e coordenado pelo IDESAM com o intuito de captar recursos de investimentos obrigatórios em P&D (Lei de Informática) para geração de novos produtos, serviços e negócios para a Bioeconomia Amazônica. Nesse cenário, além de contribuir para soluções ao desenvolvimento sustentável da Amazônia, o programa fornece apoio estratégico à agenda ESG das empresas do Polo Industrial de Manaus. A iniciativa integra os seguintes eixos temáticos: 1) Prospecção de princípios ativos e novos materiais a partir da biodiversidade amazônica; 2) Biologia sintética engenharia metabólica, nano biotecnologia, biomimética e bioinformática; 3) Processos, produtos e serviços destinados aos diversos setores da bioeconomia; 4) Tecnologias de suporte aos sistemas produtivos regionais ambientalmente saudáveis; 5) Tecnologias de biorremediação, tratamento e reaproveitamento de resíduos; 6) Negócios de impacto social e ambiental.

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