Por Dra. Patrícia Valéria Milanezi Alves
Muitas vezes, o que chega ao consultório não é apenas um desalinhamento dentário, é uma dor de quem ainda não sabe se expressar. Crianças que evitam sorrir nas fotos da escola, que falam com a mão na boca ou que voltam em silêncio para casa depois de um comentário cruel no recreio. O bullying por conta da aparência é real e os dentes fora do padrão, infelizmente, ainda são alvos frequentes.
Ao longo da minha trajetória como ortodontista, vi de perto o impacto que uma intervenção precoce pode ter não só na saúde bucal, mas na vida de uma criança. A ortodontia preventiva entra justamente nesse momento em que o desenvolvimento ósseo está em andamento e os primeiros sinais de desalinhamento aparecem. Detectá-los ainda no início pode evitar tratamentos mais invasivos no futuro e, principalmente, prevenir marcas emocionais que nem sempre cicatrizam com o tempo.
É por isso que recomendo que a primeira visita ao ortodontista aconteça por volta dos 6 ou 7 anos, mesmo que os dentes pareçam “dentro da normalidade”. Nesse estágio, conseguimos avaliar questões como o crescimento da face, a posição dos dentes, a respiração, o padrão de mordida e hábitos que interferem no desenvolvimento bucal, como chupar o dedo, ranger os dentes ou empurrar a língua contra os dentes ao falar.
Cuidar do sorriso de uma criança é, para mim, uma forma de cuidar de sua autoestima. É dar a ela a chance de se ver com mais carinho, de falar com mais segurança, de ocupar espaços sem medo. Quando comecei minha carreira, escolhi essa profissão porque acreditava, e sigo acreditando, que a ortodontia pode transformar vidas. E não apenas pelo alinhamento dos dentes, mas pelo que ele representa: confiança, inclusão, bem-estar.
Minha formação e atuação em centros especializados no Brasil e nos Estados Unidos me deram base técnica para trabalhar com precisão, tecnologia e planejamento. Mas o que me move até hoje é o olhar atento, a escuta sensível, o cuidado com cada história que se senta na cadeira do consultório. Cada criança é única. Cada sorriso, um universo.
Se você é mãe, pai ou responsável e percebe que seu filho tem dificuldade para mastigar, dormir, respirar pelo nariz, ou se nota retraimento, vergonha ao sorrir ou mudanças no comportamento social, isso pode ser um sinal de que está na hora de procurar um ortodontista especializado em infância.
A ortodontia preventiva não é só um cuidado com o futuro. É um gesto de afeto no presente.
Patrícia Valéria Milanezi Alves tem 30 anos de carreira é graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, com Mestrado e Doutorado em Ortodontia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Realizou fellowships em pesquisa ortodôntica e treinamento clínico em instituições de referência nos Estados Unidos, como The Craniofacial Center da University of Illinois at Chicago e Rush University Medical Center. Possui sólida atuação nas áreas de ortodontia, odontopediatria, crescimento craniofacial, fissura lábio-palatina e planejamento orto-cirúrgico, com foco em abordagens multidisciplinares e no uso de tecnologias tridimensionais para diagnóstico e tratamento de deformidades crânio-maxilo-faciais.
