Com 15 anos de mercado, executivo defende eficiência operacional como motor de crescimento das gestoras nos próximos 10 anos
Na era da inteligência artificial e da hiperconectividade, um dos principais entraves para o crescimento sustentável de gestoras de recursos continua sendo o mesmo: a fragmentação dos sistemas operacionais e dos fluxos de informação. A avaliação é de Guilherme Sattamini, executivo com mais de 15 anos de experiência no setor financeiro e fundador da Even, empresa que desenvolve soluções tecnológicas e operacionais para gestoras, fundos e family offices com atuação local e internacional.
Segundo Sattamini, mesmo com o avanço das plataformas digitais, muitas operações ainda são baseadas em processos manuais, planilhas frágeis e integrações pouco robustas com contrapartes, administradores e custodiantes. “Esse modelo gera retrabalho, compromete a qualidade dos dados usados nas decisões de investimento e limita a capacidade de escala das gestoras”, afirma.
De centro de custo a diferencial estratégico
Na visão do executivo, é natural que o back office seja percebido como centro de custo em estruturas tradicionais, já que o crescimento das gestoras costuma exigir o aumento proporcional da equipe operacional — o que implica mais processos manuais, maior risco de erro e um foco excessivo na correção de falhas.
“Essa lógica torna a operação reativa. Em vez de gerar valor, os times passam a ‘apagar incêndios’. O esforço diário vai para manter a operação em pé, e não para torná-la mais eficiente ou estratégica”, explica.
A proposta da Even é inverter essa equação. Ao centralizar, automatizar e reconciliar as informações desde a origem, a empresa permite que os dados fluam com consistência entre todos os elos da cadeia. “Com uma base estruturada, é possível gerar análises mais precisas, acompanhar a performance em tempo real e apoiar decisões com mais segurança. A operação deixa de ser um freio e passa a ser um motor de crescimento”, diz Sattamini.
Além disso, a redução do esforço manual abre espaço para que as equipes operacionais contribuam de forma estratégica, melhorando processos, controles e apoiando a expansão da gestora — sem que isso signifique aumento de estrutura ou custo fixo.
Eficiência como pilar da reputação e da escalabilidade
Sattamini destaca que áreas operacionais bem estruturadas não apenas aumentam a eficiência do dia a dia, mas também são determinantes para a reputação da casa junto a investidores e reguladores. “São essas áreas que garantem a liquidação correta das operações, o cumprimento regulatório e a validação contínua das posições e resultados. Quando essas entregas falham, a credibilidade da gestora é afetada — especialmente em processos de due diligence conduzidos por alocadores institucionais.”
Já quando bem resolvidas, essas funções reforçam a confiança na operação e viabilizam a escalabilidade do negócio. “A segurança operacional é percebida como um diferencial competitivo pelos stakeholders mais sofisticados”, afirma.
A tecnologia no contexto internacional
Com a crescente atuação global das gestoras brasileiras, os desafios operacionais ganham novas camadas de complexidade. Fundos que operam em múltiplas jurisdições enfrentam variáveis como fusos horários, moedas, normas locais e diferentes padrões operacionais de contrapartes e custodians.
“A ausência de padronização torna a reconciliação de informações e a validação das carteiras mais desafiadoras. Isso exige plataformas que consolidem dados, automatizem fluxos e garantam que as informações certas cheguem no tempo certo”, explica Sattamini.
Segundo ele, no modelo tradicional essas tarefas demandam equipes grandes, alto investimento de tempo e estão sujeitas a falhas humanas. Com tecnologia, essas rotinas se tornam escaláveis, seguras e padronizadas.
Os próximos 10 anos: automação, integração e eficiência
Olhando para o futuro, Guilherme Sattamini aponta um tripé indispensável para as operações de investimentos modernas: automação, integração e eficiência na alocação de recursos.
- Automação: tarefas operacionais devem ser executadas por fluxos automatizados, com validações contínuas e uso crescente de inteligência artificial para análise e execução.
- Integração: a operação precisa estar conectada, em tempo real, com todos os elos do ecossistema — de administradores a distribuidores — para garantir consistência e agilidade.
- Eficiência: o uso de serviços especializados e terceirizados permite uma estrutura interna mais enxuta e foco total no core business da gestora, reduzindo custos e aumentando a capacidade de escala.
“Esse modelo já está consolidado em outras indústrias e começa a ganhar força entre as gestoras mais modernas. Ele entrega mais segurança, controle e capacidade de crescimento com custo otimizado — um valor direto para o cliente final”, conclui o fundador da Even.