Com a aproximação das festas de fim de ano, um dos momentos mais aguardados pelas famílias brasileiras, as compras para a ceia se tornam um ponto de atenção no planejamento das vendas do setor varejista de alimentos. Recentemente, realizamos uma pesquisa com mais de 400 consumidores da cidade do Rio de Janeiro, para entender melhor o comportamento dos cariocas no momento das compras de Natal e Ano Novo. O estudo revelou dados valiosos, que não apenas ajudam a traçar um panorama do mercado, mas também oferecem importantes insights para todos os envolvidos na cadeia de abastecimento e vendas de supermercados.
Os números do levantamento são reveladores: 27,6% dos consumidores planejam gastar mais de R$ 500 nas compras para a ceia de fim de ano. Embora o valor possa parecer expressivo, ele reflete um padrão de consumo característico das festas de fim de ano, quando os laços familiares e a tradição se encontram com a necessidade de atender a uma série de preferências e exigências gastronômicas. Por outro lado, cerca de 26,2% dos entrevistados estimam um gasto inferior a R$ 350, mostrando uma segmentação clara entre os diferentes perfis de consumidores.
A pesquisa também destacou os itens mais procurados pelos consumidores para a ceia de fim de ano. O topo da lista é ocupado por produtos tradicionais: 79,6% dos entrevistados afirmaram que não podem faltar peru e chester, seguidos por rabanadas (76%), panetones (72%) e bacalhau (45,2%). A cerveja, elemento essencial para a celebração, aparece em 38,2% das respostas.
No entanto, a decisão de quais produtos comprar não é apenas influenciada pela tradição, mas também pelo preço. Para 67,1% dos consumidores, o custo é o principal fator na escolha entre peru, chester e bacalhau. Outros 16,6% consideram o tradicionalismo do peru, enquanto 16,3% destacam a força histórica do bacalhau como critério de escolha. Aqui, o setor varejista encontra uma oportunidade de ajustar sua oferta, considerando as preferências regionais e, ao mesmo tempo, proporcionando alternativas mais acessíveis para as famílias.
Outro dado relevante do estudo é que 82,3% dos entrevistados costumam substituir produtos caros por opções mais acessíveis. As substituições mais comuns envolvem a troca de peru por chester (48,8%), chester por frango inteiro (36,5%), vinho por cerveja (32,9%) e bacalhau por merluza ou produtos similares (31%). Isso mostra que, embora a celebração de fim de ano seja vista como uma ocasião especial, os consumidores estão cada vez mais atentos ao custo-benefício, o que coloca um desafio adicional para os supermercadistas que precisam garantir a disponibilidade de uma variedade de opções para diferentes orçamentos.
Em termos de comportamento de compra, a pesquisa revelou que 69,7% dos cariocas preferem fazer todas as compras em um único supermercado, o que demonstra uma clara tendência em favor da conveniência. Esse dado é um reflexo do ritmo acelerado da vida moderna, onde o consumidor busca praticidade sem abrir mão da qualidade. Além disso, 84,6% dos entrevistados afirmam que aproveitam as ofertas de encartes, aplicativos e clubes de descontos das redes supermercadistas para economizar, o que destaca a crescente importância da estratégia de promoções para atrair e fidelizar o consumidor.
Outro dado digno de atenção é o fato de que 32,9% dos consumidores deixam para fazer as compras apenas uma semana antes da ceia. Essa procrastinação nas compras é uma tradição cultural brasileira, mas também representa uma oportunidade para os supermercadistas se prepararem adequadamente para um aumento expressivo nas vendas nos últimos dias antes das festas.
Como presidente da Associação de Supermercados do Estado do Rio (ASSERJ), posso afirmar que as festas de fim de ano representam uma janela de oportunidades significativa para o setor supermercadista. O comportamento dos consumidores cariocas, com suas preferências, substituições e busca por promoções, destaca a necessidade de um planejamento cuidadoso, que atenda tanto às exigências tradicionais quanto à demanda por preços acessíveis.
Os levantamentos mostram que, mesmo diante de uma realidade econômica desafiadora, os consumidores não abrem mão da celebração com a família. Isso impõe um desafio para o setor, que deve ser capaz de oferecer uma gama de opções que atendam a diferentes orçamentos, sempre com foco na qualidade e na tradição. Além disso, é crucial que os supermercadistas aproveitem as ferramentas digitais e as estratégias promocionais para fortalecer o relacionamento com o consumidor e garantir que suas ofertas cheguem ao público certo no momento certo.
No final das contas, o que importa é que, mesmo com as dificuldades financeiras, o espírito de união e celebração prevalece, e o setor varejista de alimentos tem um papel fundamental em tornar essas festas mais especiais para todos os brasileiros.
Fábio Queiróz, Presidente da Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (ASSERJ) e primeiro vice-presidente da Associacion de Las Américas de Supermercados (ALAS).