Estudo internacional revela que combinação de medicamentos prolonga a sobrevida sem progressão e abre novas perspectivas para pacientes com mutação específica da doença
Uma nova combinação de medicamentos traz mais uma esperança para o tratamento do câncer de pulmão. Um estudo de fase 3, publicado no New England Journal of Medicine, demonstrou que a combinação de amivantamabe e lazertinibe prolonga significativamente a sobrevida sem progressão em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPNPC) com mutação no gene EGFR, em comparação com o tratamento padrão.
O ensaio clínico internacional, intitulado “Amivantamabe e Lazertinibe em CPNPC Avançado com Mutação EGFR Não Tratado Anteriormente”, que envolveu 1.074 pacientes, incluindo brasileiros, comparou a eficácia dessa nova combinação com o uso de osimertinibe, atual tratamento padrão, e lazertinibe de forma isolada. Os resultados mostraram que os pacientes que receberam a nova terapia viveram, em média, 23,7 meses sem progressão da doença, em comparação com 16,6 meses para aqueles que usaram o tratamento padrão.
Segundo o oncologista Carlos Gil Ferreira, presidente do Instituto Oncoclínicas, a oncologia está entrando em uma nova era. “A grande vantagem dessa abordagem é que ela vai além de um tratamento genérico. Estamos falando em terapias adaptadas ao perfil molecular de cada paciente, o que aumenta significativamente as chances de sucesso. Neste estudo, a combinação oferece uma possibilidade concreta de prolongar o controle da doença e postergar tratamentos mais agressivos, como a quimioterapia”, afirma.
A combinação de amivantamabe, um anticorpo monoclonal, e lazertinibe, um inibidor de tirosina quinase, atua de forma complementar, bloqueando diferentes vias de crescimento do tumor. O estudo mostrou que 86% dos pacientes que receberam essa combinação tiveram uma resposta objetiva ao tratamento (redução do tumor), comparado a 85% no grupo tratado com osimertinibe. A diferença principal foi a duração da resposta: no grupo de amivantamabe e lazertinibe, a resposta durou em média 25,8 meses, comparado a 16,8 meses no grupo de tratamento padrão.
No Brasil, o estudo foi conduzido em centros de pesquisa oncológica de destaque, que recrutaram pacientes com câncer de pulmão avançado e a mutação no gene EGFR. Os pacientes foram distribuídos aleatoriamente para receber a combinação de amivantamabe e lazertinibe, o tratamento padrão com osimertinibe ou apenas lazertinibe. “A participação brasileira em pesquisas como essa não só traz inovação para o país, mas também oferece aos pacientes acesso a tratamentos que podem fazer toda a diferença em suas vidas. Isso fortalece nossa posição na vanguarda da ciência global e amplia as opções terapêuticas para os brasileiros”, afirma Carlos Gil.
Mudanças e avanços
Nos Estados Unidos, a combinação foi aprovada em agosto pela FDA (Food and Drug Administration), e há grandes expectativas de que o tratamento seja disponibilizado no Brasil em breve, assim como em outros países. “O que vemos aqui é uma mudança de perspectiva no tratamento do câncer de pulmão. Esse tipo de avanço significa que o câncer de pulmão já não é uma sentença de morte como era há alguns anos. Estamos conseguindo oferecer mais tempo e, principalmente, uma qualidade de vida muito melhor para os pacientes”, diz.
Embora o estudo tenha mostrado resultados importantes, alguns pacientes experimentaram efeitos colaterais, como erupções cutâneas e infecções, algo já esperado em tratamentos tão poderosos. No entanto, a promessa de um controle mais duradouro da doença supera esses desafios para muitos dos pacientes.
“Essa nova combinação representa um marco no combate ao câncer de pulmão, proporcionando tratamentos mais precisos e eficazes, e abre uma nova porta de esperança para milhares de pacientes ao redor do mundo”, conclui o oncologista.
Sobre Carlos Gil Ferreira
Carlos Gil Ferreira é oncologista com graduação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1992), residência em Oncologia Clínica pelo INCA (1997) e doutorado em Oncologia Experimental pela Free University of Amsterdam (2001). Entre 2002 e 2015, foi pesquisador sênior no INCA, onde liderou iniciativas importantes como a criação do Banco Nacional de Tumores e DNA. Desde 2018, é Presidente do Instituto Oncoclínicas e Diretor Científico do Grupo Oncoclínicas, assumindo também a posição de Chief Medical Officer (CMO) em 2021. Foi Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) de 2022 a 2024. Internacionalmente, é membro do Board of Directors da International Association for the Research and Treatment of Lung Cancer (IALSC) e do International Affairs Committee da ASCO. Foi editor de obras importantes como “Oncologia Molecular” e recebeu vários prêmios, incluindo o Partners in Progress da ASCO em 2020. Sua atuação foca principalmente em câncer de pulmão, ensaios clínicos e biomarcadores.