Uma das principais referências no trabalho de memória política no país, o Núcleo de Preservação da Memória Política-NM, em parceria com o jornalista e escritor Camilo Vannuchi e a Museando Clio — roteiros de memória em São Paulo, promove uma visita mediada ao antigo prédio do DOI-CodiSP (Destacamento de Operações de Informação — Centro de Operações de Defesa Interna), local onde o diretor de jornalismo da TV Cultura foi assassinado sob tortura pela ditadura militar em 25 de outubro de 1975.
A história de Vlado se tornou um símbolo da voz e da resistência de um país até então tomado pelos arbítrios e denúncias de violações de direitos humanos, entre prisões, torturas, desaparecimentos e ocultações de corpos, nos primeiros 10 anos de ditadura militar (1964-1985).
Vladimir Herzog foi assassinado pelo governo ditador nas dependências do DOI-Codi em São Paulo, quando se apresentou voluntariamente na Rua Tutóia, 921, Vila Mariana, após ser chamado para prestar esclarecimentos sobre suas “ligações” com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Vlado entrou de espontânea vontade e só saiu de lá morto em uma cena de suicídio forjada por militares, conhecida por todo o mundo por meio de uma foto, amplamente divulgada.
Nesta visita mediada pelo Núcleo Memória, o historiador e educador da entidade César Novelli Rodrigues, junto aos parceiros e à população inscrita na ação, entrarão nas dependências do tombado em 2014, que. deteriorado pelo tempo e pela falta de cuidado e interesse dos orgãos responsáveis.
Sobrevivente do DOI-Codi/SP, o ex-preso político e diretor-executivo do Núcleo Memória, Maurice Politi, é responsável pelo cronograma de visitas mensais desde 2017 ao aparelho repressor, e reforça a importância do trabalho. “Nosso objetivo é contar sobre o período, com auxílio de testemunhas sobreviventes do local e também formar pessoas mais conscientes e críticas, que reflitam sobre os abusos do poder, as perseguições e os assassinatos ocorridos nesse período”, enfatizou.
Para o historiador do Núcleo Memória, César Novelli Rodrigues, as efemérides, como essa dos 50 anos da morte de Vlado, permitem refletirmos sobre a sociedade que queremos construir para os próximos 50 anos. “Milhares de pessoas compareceram ao ato ecumênico histórico de 1975 em homenagem a Vladimir Herzog na Catedral da Sé em uma atitude cidadã de repúdio e resistência à ditadura. A impunidade deste e dos diversos crimes cometidos pelo regime autoritário de 1964–1985 não pode continuar sem responsabilização no presente, por ser uma forma de perpetuar injustiças e apagamentos.”
Já para o jornalista e escritor Camilo Vannuchi, “A experiência de circular pelo local ouvindo o testemunho de quem enfrentou ali os piores dias de suas vidas foi muito marcante e pedagógico no sentido de “conhecer para não repetir”. Principalmente, ficou para mim a percepção absurda de que as coisas eram muito explícitas, não há porões, não há paredes duplas e janelas à prova de som.” Finaliza.
A visita é gratuita e para participar da visita, que acontecerá no próximo sábado, 25 de outubro, às 10h, é necessário fazer a inscrição pelo Instagram do Núcleo Memória @nucleomemoria no link disponível na bio. As vagas são limitadas.