A novela Paulo, que estreia na Record em julho e já chegou ao streaming, marca um dos papéis mais intensos da carreira de Murilo Cezar. Protagonista da nova superprodução bíblica, o ator encara o desafio de dar vida a um dos personagens mais complexos e transformadores da história cristã: Paulo de Tarso. Em entrevista exclusiva, Murilo fala sobre a construção do papel, os limites entre liberdade criativa e respeito à fé, e a importância de obras que provoquem o pensamento em tempos de algoritmos e superficialidade.
Fé, arte e entretenimento
“A fé sempre foi uma força motriz das manifestações culturais, desde a música até o teatro. Quando o entretenimento assume esse diálogo com o sagrado, ele pode tanto elevar quanto simplificar questões complexas”, afirma Murilo. Para o ator, a missão da série é equilibrar emoção, respeito e reflexão. “É possível entreter e provocar pensamento ao mesmo tempo — e é isso que buscamos.”
Paulo: humano antes de santo
Ao se debruçar sobre a trajetória de Paulo — um homem que foi perseguidor antes de se tornar apóstolo —, Murilo mergulhou em dilemas éticos e pessoais.
“O maior desafio foi equilibrar a reverência com a humanidade. O Paulo que eu busquei interpretar é de carne, osso e alma. Um homem em transformação.”
Liberdade de criação em temas religiosos
Com um Brasil marcado por intensa religiosidade, o ator reconhece que é preciso sensibilidade ao abordar figuras sagradas na ficção.
“Existe um cuidado que não é censura, é consciência. A produção encontrou um equilíbrio entre o respeito aos fundamentos da história e a liberdade para dar densidade humana aos personagens. Não há dogmas, há pessoas.”
A Bíblia como ponto de partida para a empatia
Para Murilo, obras bíblicas podem ser muito mais do que reinterpretações religiosas — elas têm potencial de gerar debates urgentes sobre justiça social, empatia e transformação.
“A Bíblia está cheia de temas universais. Se olharmos com um olhar crítico e social, temos uma fonte rica de reflexão humanista. Mas, se o foco for doutrinário, aí sim podemos correr o risco de reforçar muros ao invés de construir pontes.”
Arte que permanece
Num cenário artístico cada vez mais voltado para métricas e tendências digitais, Murilo defende o valor da arte que provoca e educa.
“Talvez a arte que questiona tenha ainda mais valor hoje. O algoritmo impulsiona números, mas só o conteúdo verdadeiro toca o essencial. Se a série fizer alguém repensar sua trajetória, refletir sobre intolerância ou perdão, já terá cumprido seu papel.”
A novela Paulo promete entregar mais do que cenas grandiosas e produção de impacto. Nas palavras de Murilo, o projeto entrega “humanidade em cada detalhe”. E essa talvez seja a maior força da trama: nos lembrar que até os maiores apóstolos da fé também tiveram seus dias de dúvida, queda e recomeço.