Segundo a Pesquisa TALIS 2024, da OCDE, professores brasileiros gastam cerca de 21% do tempo de aula apenas para manter a disciplina — quase um quarto do período que deveria ser dedicado à aprendizagem. Enquanto a média internacional é de 15%, o dado brasileiro revela algo mais profundo: o desgaste emocional e pedagógico de quem ensina em um ambiente que ainda não aprendeu a aprender junto.
A indisciplina, porém, não é simples resultado de desinteresse. Para o Prof. Dr. Th. Gomés, ela nasce da falta de pertencimento e propósito dentro da escola. “Manter a ordem sem gerar pertencimento é como tentar ensinar sem ser ouvido”, afirma.
A seguir, o especialista apresenta cinco eixos fundamentais para reverter esse quadro e transformar a relação entre professor, aluno e escola.
1. Construa uma cultura de pertencimento
Disciplina é consequência de vínculo, não de vigilância. A escola precisa trocar o controle pela convivência significativa. Criar rituais de pertencimento — como rodas de conversa, murais de reconhecimento e assembleias — fortalece a relação entre alunos e comunidade escolar. Experiências internacionais, como os programas de Positive Behavior Support no Canadá e na Finlândia, mostram que valorizar comportamentos colaborativos reduz de forma significativa as ocorrências disciplinares.
2. Invista em formação docente voltada à gestão emocional
Ensinar conteúdo é importante, mas ensinar a conviver é urgente. O professor precisa ser preparado para lidar com conflitos, emoções e diferentes perfis de alunos. Treinamentos em técnicas restaurativas, escuta ativa e mentorias entre pares ajudam a fortalecer a liderança de sala de aula como competência relacional.
3. Fortaleça a estrutura institucional de apoio
A indisciplina não deve ser vista como problema individual do professor, mas como responsabilidade coletiva da escola. Protocolos de mediação, presença ativa de psicólogos e orientadores e canais de diálogo com as famílias são fundamentais. No Chile, por exemplo, a criação dos equipos de convivencia escolar reduziu em 25% os conflitos recorrentes nas salas de aula.
4. Promova o engajamento por meio de sentido e propósito
Muitos comportamentos indisciplinados nascem do desconhecimento sobre o porquê de aprender. Metodologias ativas, projetos reais e temas ligados à vida e à carreira devolvem significado ao ensino. “Quando o aluno entende o impacto do que aprende, ele se engaja — e a disciplina passa a ser natural”, reforça o professor.
5. Cuide do bem-estar e da valorização docente
Um professor emocionalmente exausto não ensina, apenas sobrevive. Investir em programas de saúde mental, reduzir o peso burocrático e celebrar pequenas vitórias fortalece o clima institucional. “Cuidar do professor é cuidar do futuro, porque ninguém inspira cansado”, ressalta Gomés.
Mais do que uma questão de gestão escolar, diminuir o tempo perdido com indisciplina é um ato de transformação cultural. Significa devolver voz e confiança a quem ensina e aprende. “A disciplina verdadeira nasce quando todos entendem por que estão ali. Educar é formar consciência, não apenas transmitir conteúdo”, conclui o especialista.
Prof. Dr. Th. Gomés é empreendedor educacional, pesquisador e defensor da aprendizagem com propósito. Acredita que educar é herdar o futuro — e o futuro começa pela forma como olhamos uns para os outros.
Sobre Thiago Gomés:
Thiago Gomes é Fundador & Presidente das unidades Maple Bear Águas Claras, Valparaíso e Anápolis; Vice-Presidente da Faculdade das Nações; e Fundador da BSB Soluções e da B2B Soluções Contábeis. Doutor em Ciências Sociais pela UNISINOS e especialista pela FGV, é reconhecido por sua atuação em inovação educacional no Brasil. Já atuou como avaliador do MEC/INEP e como conselheiro da ANUP e do SINDEPES/DF.