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Homenagem a Manoel de Barros, livro “Diálogos do Ócio” será lançado na Livraria da Travessa do Leblon

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  • Lançamento acontece na terça-feira, dia 16, a partir das 19h
  • Obra é um inventário de décadas de amizade do autor com o poeta Manoel de Barros, tem apresentação de José Hamilton Ribeiro, é considerada leitura essencial por leitores do poeta e concorre ao Prêmio Jabuti 2024, na categoria de Biografia-Reportagem

Em homenagem aos “dez anos de encantamento” do saudoso poeta Manoel de Barros, a Livraria da Travessa e o jornalista Bosco Martins lançam o livro “Diálogos do Ócio,” no próximo dia 16, a partir das 19h, na loja do Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, pela Editora Los Bugres.

A obra é um inventário de décadas de amizade do poeta com o autor que, finalmente, revela como vivia, como criava, como Manoel de Barros via o mundo à sua volta e, principalmente, como surgiu o estilo “barreano” e o abecedário “manoelês” e com prefácio assinado pelo “repórter do século” José Hamilton Ribeiro, autor de “Gosto da Guerra” (sobre a cobertura da Guerra do Vietnã), entre outros.  

Nas 327 páginas do livro Bosco Martins mostra que a vida de Manoel de Barros era muito simples e que ele estava sempre com um sorriso para receber quem chegasse. As anotações presentes no livro revelam a sensibilidade jornalística e encantamento com Manoel ou ‘MB’, como é chamado no livro. A sigla é ao contrário de BM, do Bosco Martins, e assim a dupla é revelada.  

A relação de amizade também expõe a sintonia entre eles ao ponto do jornalista mostrar no livro seu olhar sobre Bernardo, que é o personagem do poeta, livre como vento. Quem acompanha a obra de Manoel sabe que no fundo ele queria viver como Bernardo da poesia. 

A vida de Manoel de Barros foi dedicada ao nada. Era para isso que ele prestava. Chegava a sofrer moralmente por só fazer coisas inúteis. Os livros sobre nada de Manoel de Barros tinham poesia, cores, paisagens, palavras inventadas e uma beleza singela…”, diz Bosco Martins, que revela em “Diálogos do Ócios” particularidades que ninguém conheceu. 

Embora guardasse alguma similaridade com Guimarães Rosa, Manoel de Barros “era único” e apesar da consagração, nada o lisonjeava. Cada vez que publicava um livro fugia desonrado para o Pantanal, onde era abençoado por garças. Ele gostava mesmo das partes isoladas. Fez do pantanal um de seus universos preferidos, embora tenha rodado o mundo e se instalado no Rio de Janeiro, centro da efervescência literária”, conta Bosco Martins.

Bosco Martins conta em detalhes como foram os principais momentos dos anos de amizade com o poeta. Amizade essa que começou casualmente, nos anos 1980, e se fortaleceu pela afinidade e pontos de vista comuns, como o exercício do ócio e o prazer de extrair ideias durante o “fazer nada”. Antes de ser o homem das pequenezas e das “ignorãças”, Manoel de Barros foi um modernista. O jornalista conviveu com o poeta até um ano antes de sua passagem, quando a amiga e artista plástica Martha Barros, herdeira e única filha do poeta, pediu ao amigo que a partir daquele dia “o pai iria se recolher aos familiares”. 

Decidi escrever sobre a vida de Manoel de Barros para que o público pudesse conhecer a intimidade de um poeta que criava além do tempo, da percepção natural e da concepção multicultural. No prólogo da obra eu digo que o livro é uma grata empreitada em que busco revelar para o público o cotidiano do criador do seu próprio dialeto. O íntimo de um homem simples, que carregava dentro de si um grande poeta, de aguçada percepção da vida, não apenas em suas grandezas, mas, também, em suas pequenezas. Um poeta que transpôs todos conceitos e preconceitos dos hábitos e conhecimentos do homem, mostrando que o inútil é fonte de criação, assim como no ócio também se exercita o pensamento”, declara Bosco Martins.

Prêmio Jabuti 2024

O livro concorre ao Prêmio Jabuti em 2024, na categoria Biografia-Reportagem. A expectativa da Câmara Brasileira de Livros (CBL) é que a 66ª edição do Prêmio Jabuti supere a edição pós pandemia, em 2022 (64ª), que teve recorde de 4.290 livros inscritos. 

Os autores vencedores de cada categoria recebem a estatueta e o prêmio de R$5 mil (exceto Livro Brasileiro Publicado no Exterior). O vencedor da categoria Livro no Ano será premiado com a estatueta e o valor de R$100 mil. 

Trecho do livro “Diálogos do Ócio”

“Do internato de Campo Grande (1928), ao colégio interno no Rio de Janeiro (1934), foi na década de 1960, ainda no Rio, que Manoel conheceu o jornalista Sérgio de Souza. Sérgio era o editor de texto de “Realidade” e tinha um modo particular de trabalhar a escrita nas reportagens.

Tendo como ferramenta apenas um lápis nº 1, ele pinçava as palavras para cortar, realçar ou substituir, na busca da clareza e da precisão. Na imprensa brasileira daquela época, não se cuidava da palavra. Uma reforma editorial dos jornais do Rio tinha implantado o copidesque, de inspiração americana: um redator reescrevia o original dos repórteres, de forma que todo o jornal parecia ter sido escrito por um único (e bom) redator. A fórmula influenciou as redações em todo o país.

O poeta cumpria seus desígnios, entre leituras de clássicos da literatura portuguesa e francesa

O poeta e Sérgio logo se aproximaram, tinham personalidades parecidas. Além de generosos, eram avessos a entrevistas, até tímidos diante de uma câmera ou microfone.

Os dois eram serenos, falavam baixo, com um sorriso amarelo, meio que infantis. Eram amáveis, mas rigorosos no trato da palavra. Se conheceram em uma redação, onde o poeta levava poemas para publicação. Sérgio mexia no texto, buscando comunicabilidade e emoção, mas sem alterar o estilo do autor.

Curvado sobre a mesa, em silêncio, Sérgio, com suas mãos compridas, dedos longos e finos, assinalava os textos a lápis.

Quando circulava uma palavra com o grafite, ela estava condenada, era preciso achar a palavra certa. Também não era uma boa notícia quando riscava uma frase, um parágrafo, ou um trecho inteiro. Só se via alguma bulha na sala quando quebrava a ponta do lápis: “Alguém pegou o apontador?”

Sobre o autor

Natural de Fernandópolis (SP), Bosco Martins, 65, recebeu de seu pai, Waldemar Martins, escritor regionalista, o amor pela literatura e artes em geral. Transferiu-se para Campo Grande (MS) na década de 1980, onde atuou em movimentos culturais e na imprensa, onde foi de repórter a diretor de jornalismo das principais emissoras do Estado de Mato Grosso do Sul e correspondente de jornais nacionais, incluindo revistas como a Bravo e a Caros Amigos, onde colaborou com várias matérias sobre o poeta Manoel de Barros.  Presidiu o Fórum Nacional de Emissoras Públicas de Rádio e TV e tem forte participação na fundação da TV Educativa e na renovação e digitalização da sua produção regional. Atualmente mora entre Bonito e Campo Grande, onde atua como ambientalista, articulista e colunista nas plataformas digitais. 

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