O Brasil registrou, no primeiro trimestre de 2025, a maior saída de dólares da história. Segundo dados do Banco Central, o fluxo cambial ficou negativo em US$ 15,8 bilhões, superando inclusive os piores momentos da pandemia de covid-19, em 2020. Só no mês de março, a saída líquida foi de US$ 8,3 bilhões. Os números acendem um sinal de alerta sobre o ambiente econômico do país, mas também revelam um movimento silencioso e crescente: o de brasileiros que buscam no exterior não apenas segurança financeira, mas novas possibilidades de vida.
De acordo com o advogado e especialista em imigração Dr. Vinicius Bicalho, membro da American Immigration Lawyers Association (AILA), esse fenômeno não se limita ao comportamento de grandes investidores ou empresas. Há uma camada da população com poder de decisão financeira que tem estruturado a saída de recursos como parte de um plano maior de internacionalização pessoal e patrimonial.
“Esse movimento de retirada de capital reflete uma tendência que já vinha se desenhando. Desde o governo Trump, houve um aumento significativo tanto na procura por vistos internos nos Estados Unidos, como os de trabalho e residência, quanto na busca de brasileiros por processos de imigração qualificada”, afirma o especialista.
Para Bicalho, a fuga recorde de dólares em 2025 é também um termômetro da insegurança jurídica, fiscal e institucional percebida por parte da população. “Quando há instabilidade no ambiente interno, as famílias tendem a antecipar decisões. Muitos clientes iniciam esse processo abrindo contas no exterior, enviando filhos para estudar fora, adquirindo imóveis e estruturando empresas fora do Brasil.”
A procura por vistos como o EB-5, que permite o green card por meio de investimentos nos Estados Unidos, é uma das estratégias que mais crescem, segundo o advogado. “Essas decisões não ocorrem do dia para a noite. São planejadas com base em projeções de longo prazo. E a conjuntura atual tem acelerado esses planos.”
Além dos dados econômicos, o cenário político e tributário do país também influencia essas movimentações. A discussão sobre reformas, a complexidade do sistema fiscal e o receio de mudanças que afetem diretamente o patrimônio e os negócios têm impulsionado famílias a buscarem alternativas fora do país.
“O envio de dinheiro ao exterior, muitas vezes, é o primeiro passo de um processo maior, que inclui a reorganização da vida pessoal e empresarial em um ambiente considerado mais estável. A economia e o desejo de segurança andam juntos”, conclui Bicalho.