A liberação de neurotransmissores durante a prática esportiva ajuda na regulação emocional e redução de estresse, questões que geralmente são tratadas com medicamentos
Esportes como futebol, basquete e vôlei têm sido utilizados como parte do tratamento para o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Além dos benefícios físicos e sociais, profissionais da saúde apontam que a prática esportiva pode contribuir para a saúde mental e, até mesmo, reduzir o uso de medicamentos entre os pacientes.
Estudos indicam que a liberação de neurotransmissores durante a atividade física regular auxilia na regulação emocional, diminui a ansiedade e melhora a interação social — fatores que, muitas vezes, são tratados com fármacos.
O tratamento para autismo é individualizado e multidisciplinar, com foco no desenvolvimento de habilidades e na redução de comportamentos desafiadores. Embora não exista cura para a condição, intervenções adequadas podem melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que existam cerca de 70 milhões de pessoas com TEA no mundo, sendo 2 milhões no Brasil. Os dados são de um levantamento realizado em 2010, o que indica que os números atuais podem ser ainda maiores.
Relação entre esporte e a redução do uso de medicamentos
A prática de atividades físicas é amplamente recomendada pela OMS por seus benefícios para o corpo e a mente. No caso dos autistas, os impactos positivos podem ser ainda mais expressivos. Quando um paciente com TEA busca atendimento em uma clínica de neurodesenvolvimento, é comum que receba acompanhamento multidisciplinar e, muitas vezes, a prescrição de medicamentos para auxiliar no tratamento.
Embora os fármacos sejam importantes, estudos apontam que, em alguns casos, o uso pode ser excessivo. Uma pesquisa realizada por estudantes do curso de Psicologia da Universidade Tiradentes (Unit) destaca que o exercício físico regular pode ser uma alternativa para reduzir a abordagem medicamentosa, pois também contribui para o desenvolvimento de habilidades e o bem-estar emocional.
Os pesquisadores analisaram 53 artigos para investigar a relação entre esporte e autismo. Os resultados indicam que a atividade física estimula o paciente, promovendo melhorias nas habilidades sociais, comportamentais e motoras. Com esses avanços, o uso de medicamentos para questões emocionais e de interação social pode ser minimizado.
O trabalho foi orientado pelo professor Cleberson Tavares Costa, do curso de Psicologia, e vinculado ao Laboratório de Biociências da Motricidade Humana (Labimh/Unit). As conclusões foram apresentadsa na edição de 2024 da Semana de Pesquisa da Unit (Sempesq).
Outros estudos também reforçam os benefícios do esporte para pessoas com TEA. O Guia da Atividade Física para Pessoas com Transtorno do Espectro Autista, do Ministério da Saúde, aponta que a liberação de neurotransmissores, como endorfina e serotonina, durante o exercício físico contribui para a estabilização do humor e a redução do estresse.
Benefícios do esporte para o TEA
Além de ser uma alternativa para reduzir o uso excessivo de medicamentos, o esporte oferece diversos benefícios para pessoas dentro do espectro. De acordo com a terapeuta, da clínica para autismo em Niterói, Espaço Cel, Aline Alves, a prática de atividades físicas em crianças com TEA promove um crescimento saudável e favorece o desenvolvimento social, emocional e cognitivo.
Do ponto de vista físico, a profissional explica que o esporte fortalece ossos, músculos e articulações, contribuindo para um crescimento equilibrado. Além disso, auxilia na manutenção do peso saudável, prevenindo doenças crônicas como a obesidade infantil.
Já no aspecto cognitivo, emocional e social, Aline destaca que atividades que exigem concentração e coordenação estimulam o cérebro, melhorando a capacidade de foco, memória e tomada de decisões.
Os neurotransmissores também contribuem para a regulação do humor, promovendo sensações de bem-estar e prazer. Esses efeitos são considerados essenciais para reduzir sintomas de ansiedade, estresse e prevenir quadros de depressão.
A terapeuta ressalta, ainda, que o esporte contribui para a construção da autoestima e da autoconfiança. Ao aprender novas habilidades e atingir objetivos dentro das práticas esportivas, as crianças se sentem mais seguras e capacitadas, o que impacta positivamente sua saúde mental.