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Epilepsia e cannabis medicinal: quase 40% das crises são resistentes aos fármacos tradicionais

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A epilepsia, nome da doença neurológica caracterizada por atividade elétrica anormal no sistema nervoso, foi uma das primeiras condições a serem tratadas com óleo medicinal de cannabis — isso se deu, entre outros motivos, pelo fato CBD, composto extraído da planta, ter mostrado propriedades anticonvulsivantes desde os primeiros estudos.

O diagnóstico de crise epiléptica, que pode ou não ser convulsiva, é recebido por cinco milhões de pessoas a cada ano e, destes, 37% são farmacorresistentes. “Esses pacientes que continuam convulsionando mesmo com o uso regular de três drogas antiepilépticas, por exemplo, são os que geralmente buscam novas possibilidades de tratamento”, explica a Dra. Mariana Maciel, CEO e médica responsável pela biofarmacêutica Thronus Medical.

Apesar da alta resistência aos fármacos tradicionais, o tratamento para epilepsia à base de canabidiol ainda é tido como adjuvante, ou seja, não é o primeiro a ser considerado no tratamento da doença. Síndromes epilépticas homogêneas, altos índices de crises e uso de dois ou mais fármacos costumam fazer parte dos critérios de inclusão de compostos da cannabis no tratamento.

A prescrição é individualizada, bem como o tipo de medicamento e dose determinada pelo médico. “Chegamos à dosagem ideal à base de monitoramento”, conta a especialista, para quem as notícias sobre efeitos no sono, humor ou disposição do paciente são fundamentais para chegar o mais rápido possível à dose ideal. Entre as formas de administração do princípio ativo mais utilizados em pacientes com epilepsia está a intranasal, considerada um produto “de resgate”. “É mais fácil de ser administrada por cuidadores ou pessoas próximas aos pacientes que estão em crise ou em surto, quando é impossível que o próprio indivíduo administre sozinho o medicamento”, diz Mariana.

O intranasal facilita a aplicação por uma segunda pessoa, sem ter de abrir a boca de quem está sofrendo um surto para que o medicamento seja aplicado embaixo da língua.

A mucosa nasal possui uma alta capacidade de absorção – no caso, a ação do princípio ativo é imediato, o que potencializa seus efeitos, que podem durar até seis horas. Medicamentos administrados oralmente, como óleos e não-óleos, geralmente seguem uma certa preparação, como ingerir após refeições. O intranasal, então, é mais rápido e funcional. “Lembrando que, quanto menos tempo durar a crise, mais estamos protegendo o sistema nervoso dessa pessoa”, conta a especialista.

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Redução de crises

Segundo estudos, até 5% das crianças com Dravet- forma de epilepsia caracterizada por convulsões recorrentes e comprometimento do neurodesenvolvimento que tem início na infância – se tornaram livres de crises convulsivas com o uso de CBD. A frequência dessas crises também reduz de forma importante: produtos à base de cannabis diminuem a repetição dos episódios em 30 a 90%. “Podemos imaginar a importância e o tamanho desse avanço para uma criança que chega a convulsionar mais de cem vezes por dia, por exemplo”.

Embora se saiba que o canabidiol é importante por inibir a liberação de glutamato, neurotransmissor importante no corpo que medeia a atividade das crises epilépticas, por exemplo, os mecanismos sobre como o composto age nas crises ainda estão sendo elucidados. “Atua sim questão do glutamato, mas tem também mediadores na serotonina, uma atuação neuroprotetora já comprovada, e até os efeitos mais conhecidos, como os antiinflamatórios e antioxidantes interferem na propagação de crise epiléptica”, explica a especialista. Além do CBD, outros canabinoides estão sendo estudados em relação à doença como o CBC, THCV, CBDV. “Podemos esperar avanços consideráveis na utilização de partículas da cannabis nesse tipo de tratamento”, esclarece.

 

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