Autores de obras premiadas e traduzidas refletem sobre escrita de fronteira, regionalismos e tensões sociais em mesa marcada para o dia 17 de maio
A literatura brasileira não cabe em um único mapa. Suas vozes reverberam das periferias urbanas, dos rincões amazônicos, dos pampas, das margens que redesenham o centro. É com essa premissa que a FLIMA 2025 – Festa Literária Internacional da Mantiqueira apresenta a mesa “Brasil Deslocado: Literatura e Fronteira”, no sábado, 17 de maio, às 16h30, reunindo dois autores que têm se destacado justamente por tensionar os limites da geografia, da linguagem e da estética literária nacional: Edyr Augusto e Morgana Kretzmann.
A violência tropical de Edyr Augusto
Com uma prosa seca, rápida e cinematográfica, o paraense Edyr Augusto é um dos escritores mais instigantes da atualidade. Seus livros, como Casa de Caba, Moscou e o premiado Pssica (Companhia das Letras), mergulham no submundo das cidades amazônicas e expõem, com brutalidade e lirismo, os ciclos de violência, corrupção e abandono no Norte do país. Em Pssica, por exemplo, acompanhamos o tráfico humano e a devastação da inocência, num enredo que escancara o colapso ético e urbano da Belém contemporânea. A obra foi adaptada para a televisão por Fernando Meirelles e chega em breve como minissérie na Netflix.
Edyr, também jornalista e dramaturgo, é conhecido por sua escrita que mistura jornalismo investigativo e ficção noir, sem concessões. “Meu estilo é direto porque o mundo em que vivemos é direto. A violência não tem vírgula”, costuma afirmar.
A delicadeza sombria de Morgana Kretzmann
Na contramão da secura, Morgana Kretzmann, natural de Erechim (RS), aposta numa prosa densa, lírica e inquietante. Seu romance de estreia, Ao pó (Nós Editora), venceu o Prêmio São Paulo de Literatura e recebeu elogios da crítica por narrar, com intensidade e ambiguidade, a saga de uma jovem presa entre a maternidade e a culpa, numa cidade rural do sul do país. A escrita de Morgana se distingue pelo controle formal, pela tensão existencial e pela potência imagética de seus textos.
Em seu segundo livro, Água turva (Todavia), a autora mergulha nas águas barrentas do trauma, da violência simbólica e da identidade feminina. Com tradução já em sete idiomas, Morgana tem se afirmado como uma das vozes mais promissoras da nova ficção brasileira — e uma das mais internacionalizadas.
Uma conversa entre margens e pertencimentos
A mediação será da jornalista e escritora Jéssica Balbino, mestre em comunicação pela Unicamp e colunista do Estado de Minas, conhecida por seu trabalho com literatura periférica, hip-hop e narrativas dissidentes. A mesa será uma oportunidade rara de ver, lado a lado, dois escritores que pensam o Brasil a partir das bordas — e que fazem das bordas o centro da sua literatura.
“Brasil Deslocado” dialoga diretamente com o tema curatorial da FLIMA 2025, “Deslocamentos e Pertencimentos”, e se propõe a refletir sobre como os sotaques literários, as histórias marginais e os corpos dissidentes continuam a reinventar o que se entende por literatura brasileira.
SERVIÇO
MESA 7 – BRASIL DESLOCADO: LITERATURA E FRONTEIRA
📅 Sábado, 17 de maio
🕟 16h30
📍 Auditório Municipal de Santo Antônio do Pinhal
📌 R. Cel. Sebastião Marcondes da Silva, 2-132 – Centro, Santo Antônio do Pinhal (SP)
📺 Transmissão ao vivo: Canal da FLIMA no YouTube
♿ Acessibilidade: LIBRAS, audiodescrição e legendas simultâneas
🎟️ Entrada gratuita – Retirada de ingressos no local, 1h antes do início
FLIMA 2025 – Festa Literária da Mantiqueira
📅 De 15 a 18 de maio
📍 Santo Antônio do Pinhal (SP)
🌐 www.flima.net.br