O escritor, roteirista e diretor Pedro Milward, com 18 anos de carreira no audiovisual e quase duas décadas de vivência como médium, lança seu primeiro romance, Além – O Encontro na Mesa. Com mais de 500 páginas, a obra mistura realidade e ficção em uma narrativa espiritual marcada por emoção e autenticidade. O que poucos sabem é que a história nasceu originalmente como um projeto audiovisual.
Um projeto de série
Desde o início, a ideia era transformar a experiência em uma série de oito episódios, cada um com cerca de 50 minutos, em formato procedural — semelhante a produções como ER (Plantão Médico) ou dramas policiais, mas ambientada em uma casa espírita. A proposta era apresentar, a cada episódio, a história de um consulente na mesa mediúnica, sem perder o arco central dos protagonistas.
“Participei de rodadas de negócios e houve interesse de produtoras, mas sentia que a dramaturgia ainda estava crua”, relembra o autor.
Foi nessa fase que conheceu a roteirista Renata Jhin, que o ajudou a estruturar a primeira bíblia do projeto. Depois, seguiu sozinho, acumulando rodadas de negócios e tentativas de desenvolver o roteiro em diferentes formatos.
A maturidade do projeto veio em uma espécie de sala criativa com Erick Andrade e o roteirista Ricardo Hofstetter (ex-presidente da ABRA). “Eles liam o que eu escrevia e me ajudaram a entender que, mesmo sendo uma história real, precisávamos trabalhar a dramaturgia. Foi quando passamos de ‘baseado em fatos reais’ para ‘inspirado em fatos reais’. Isso me permitiu criar novos personagens, conflitos e um arco mais elaborado”, explica.
Esse novo formato — o quinto tratamento do projeto — foi enviado a Márcio Yatsuda, da Movioca. Após três anos de desenvolvimento, ele considerou que a série estava madura e pronta para avançar. Foi então que, juntos, apresentaram o projeto à produtora Coração da Selva, buscando uma união estratégica.
Do audiovisual à literatura
A decisão de transformar a ideia em livro surgiu da necessidade de dar segurança e controle à propriedade intelectual.

“No audiovisual, existe sempre o risco de a ideia não sair do papel. O livro me deu controle e a possibilidade de negociar direitos com segurança, sem perder a essência da história”, diz Pedro.
Como roteirista, ele encontrou um estilo próprio que transbordou para a literatura, o que chama de literatura cinematográfica: “As rubricas viraram um narrador onisciente, que às vezes sinto ser o próprio ‘além’ contando a história. As descrições são imagéticas, quase como cenas vividas, fazendo o leitor entrar no instante, sentir os personagens e a espiritualidade se revelar pela experiência, e não por explicações.”
Parcerias de peso e futuro da série
A Movioca, fundada em 2012, já criou conteúdos para canais como Discovery, E!, Lifetime e SBT, além de coproduções indicadas a prêmios internacionais. A Coração da Selva, sob liderança de Georgia Costa Araújo, é uma das produtoras mais respeitadas do Brasil, responsável por obras premiadas como Pedro e Bianca e pelo enorme sucesso de Beleza Fatal na HBO Max, além de estreias na Netflix (Amor sem Medida) e em outros players globais.
A união entre Movioca e Coração da Selva enaltece a força do projeto. De um lado, a experiência criativa e autoral de Márcio Yatsuda e sua trajetória na Movioca; do outro, o peso e o reconhecimento internacional da Coração da Selva. Juntas, essas produtoras representam a possibilidade real de Além chegar ao mercado e se unir a plataformas de streaming para finalmente ganhar vida na tela.
Livro e série: duas experiências distintas
O universo da Casa da Luz, inspirado em vivências reais do autor, estará tanto no livro quanto na futura série. Mas Pedro faz questão de ressaltar:
“O livro é uma experiência íntima, que permite ao leitor imaginar e interpretar à sua maneira. Já a série é construída por muitas mãos — roteiristas, diretores, elenco, fotografia, música, montagem. É uma percepção coletiva e sensorial. Sou fã de todas.”
Fé, dramaturgia e missão pessoal
A espiritualidade é essência, não pano de fundo. Pedro atuou como médium por 18 anos em casas espíritas, experiência determinante para a criação:
“Além não fala de um mundo distante, mas de como o além se manifesta aqui e agora, no cotidiano.”
Ele admite que expor esse lado da vida foi uma decisão difícil, mas necessária:
“Durante muito tempo não falava sobre meu trabalho como médium, mas percebi que expor essa vivência poderia servir a um propósito maior. Hoje sinto que cumpro também uma missão: mostrar a espiritualidade como remédio, como algo natural que nos acompanha a cada segundo.”
O sonho em expansão
Com o lançamento do livro marcado para 14 de outubro e a série em negociação, Além se firma como projeto transmídia capaz de alcançar leitores e, em breve, espectadores.
“Ver esse conteúdo ganhar forma tanto no livro quanto na tela é um sonho se realizando. O lançamento já é uma grande realização. E quando a série acontecer, será ainda mais potente: alcançará leitores e espectadores, literatura e audiovisual — como sempre sonhei.”