Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, cerca de 1 milhão de pessoas vivem com alguma forma de demência e 100 mil novos casos são diagnosticados por ano. Em todo o mundo, o número chega a 50 milhões de pessoas. O Alzheimer é a principal causa de doença neurológica na terceira idade. Com o envelhecimento da população, a tendência é que um maior número de idosos seja afetado. Junto com os doentes, cresce também o número de cuidadores que possuem sua rotina afetada pela doença.
É muito comum que o papel de cuidador familiar seja desempenhado por mulheres, como filhas, esposas ou irmãs. Elas não só cuidam do doente da família, mas também lidam com as responsabilidades domésticas e atendem às necessidades de todos que residem na casa, muitas vezes conciliando essas obrigações com empregos remunerados. Essa função não remunerada, ‘invisível’ e muitas vezes subestimada pode acarretar sérios problemas de saúde devido ao estresse. Isso ocorre com a sobrecarga de tarefas, seja com o doente, cujas necessidades aumentam com a evolução do quadro, seja pelas demandas da casa ou das responsabilidades no ambiente de trabalho. O esgotamento emocional diminui a qualidade de vida, gera inquietude, desencadeia emoções e sentimentos negativos.
De acordo com a pesquisa intitulada “Gênero é o que importa”, realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a atribuição do papel de cuidar está frequentemente associada à mulher, justificada por crenças arcaicas de que as mulheres possuem instintos maternos inatos. No entanto, é importante destacar que o conceito de gênero é, na verdade, uma construção social. Essa observação evidencia que a responsabilidade de cuidar é imposta às mulheres sem que haja uma análise crítica desse padrão, o que perpetua esse problema social.
Podemos listar vários sintomas de estresse do cuidador familiar que são: negação sobre a doença e suas consequências, raiva com a pessoa doente ou com os outros, inconformismo pela doença não ter cura ou pelo fato da pessoa doente não compreender o que está se passando. Acontece também o isolamento social de amigos e das atividades que antes traziam prazer, ansiedade em relação a um novo dia ou ao que o futuro reserva. Além de vários outros problemas físicos, esse familiar pode apresentar também depressão, insônia, irritação e falta de concentração. Muitos acabam se afastando do mercado de trabalho por não ter com quem deixar o familiar doente e nem condições de arcar com um cuidador profissional ou casas de repouso.
A mulher cuidadora deve tomar alguns cuidados para evitar o estresse diário. Uma dica é aumentar o conhecimento sobre o Alzheimer, isso faz com que a pessoa se prepare para as etapas do processo de demência, encarando as dificuldades de maneira mais prática. Outros pontos importantes são: ter um sono reparador, praticar atividades físicas, tirar um momento para si, manter uma rotina de encontro com amigos, meditar, exercer a espiritualidade e se necessário procurar grupos de apoio.
Procurar dividir as tarefas com os outros parentes, e se possível, contratar um cuidador profissional para alguns dias da semana são outras medidas que podem ser tomadas. Programar turnos livres também ajuda a combater o estresse, manter o ânimo e a energia para continuar a cuidar do idoso com demência com amor e paciência.
André Lima é neurologista, membro da Academia Brasileira de Neurologia e diretor da Clínica Neurovida.