Psicólogo especializado no assunto lista possíveis sintomas e explica como é possível sair dessa situação
Autoconhecimento e amor-próprio são fatores fundamentais para um relacionamento saudável e o inverso disso também é verdadeiro. A falta desses elementos pode gerar dependência emocional, um sintoma que contribui para relacionamentos não saudáveis.
Segundo o psicólogo e neuropsicólogo, Caio Moura, em seus atendimentos, 80% de seus pacientes trazem demandas ligadas a relacionamentos e 90% desses casos têm relação com a dependência emocional. “É uma métrica que comprova o quão é importante abordar esse assunto, que carece de esclarecimentos e reflexões para proporcionar mudanças nesse padrão que pode ser patológico”, explica.
Segundo o especialista, existem diversos motivos que podem causar a dependência emocional e não é uma regra exata para descobrir onde foi o ponto de partida desse sintoma, mas que existem algumas questões de muita relevância para compreender cada caso de seus pacientes. “O histórico familiar, como, por exemplo, a relação com os pais e/ou cuidadores, ter pouco autoconhecimento, amor-próprio prejudicado, autoimagem distorcida, padrão de comunicação passiva, medo do abandono e compreensão equivocada de posse do outro”, conta.
Além das questões individuais, existem fatores externos que contribuem para a compreensão coletiva do que é se relacionar. Muitas pessoas ainda acreditam no padrão de relacionamentos construído por filmes, séries e novelas, no qual o amor é representado como sinônimo de luta e sofrimento, fazendo com que a felicidade do casal seja alcançada apenas no final, no desfecho da história. Mas, será que vivemos para sermos felizes apenas no final?
Caio lista quais são os principais sintomas que evidenciam a dependência emocional. “Ciúmes em excesso, sentimento de posse, desconfiança, busca por controle, não se ver fazendo nenhuma atividade sem o(a) parceiro(a), afastamento dos amigos, viver em função exclusivamente do relacionamento e consequentemente deixando sua vida pessoal cada vez mais de lado ou sem segundo plano. A pessoa literalmente respira o parceiro(a) 24 horas por dia”, explica.
Para o psicólogo, a primeira reflexão importante para a superação da dependência emocional é a pessoa compreender que o seu EU está fragilizado, ou seja, que há necessidade de investimento de autoconhecimento e amor-próprio. “ A questão aqui é que a pessoa dependente emocional está com o seu EU tão enfraquecido, que precisa do outro para se sentir completa e, na presença de qualquer sinal sugestivo de independência desse outro, um medo do abandono toma conta da pessoa, a tornando cada vez mais dependente”.
A construção do amor-próprio é um fator primordial para essa cura. “Quando falamos em amor-próprio é o primeiro passo porque a pessoa passa a compreender que ela é capaz de direcionar afeto para si mesma, não precisando do outro para isso. Assim, não permanecerá em um relacionamento porque precisa dele, mas sim porque quer estar ali. Precisar e querer são coisas distintas: eu preciso porque dependo, mas eu quero porque eu amo”, conta Moura.
Ter o acompanhamento de um profissional nessa missão de cura e transformação de dependência emocional é um ato de amor-próprio em todo esse processo. O psicólogo fala do quanto essa ajuda tem papel fundamental. “A psicoterapia ajuda o fortalecimento do EU que é um dos pilares do trabalho do psicólogo e isso transforma a vida das pessoas que passaram pela dependência emocional. O resultado disso é uma pessoa que se ama mais, faz as pazes com a autoimagem, dedica-se a si mesma e aos seus projetos e, mesmo sendo completa como pessoa, decide estar em um relacionamento, pois apesar de não precisar dele para se sentir bem e feliz, quer estar ali para construir algo novo: o relacionamento”.
O especialista cita a importância de uma das reflexões mais importantes para quem quer se relacionar ou está em um relacionamento e deseja que ele seja saudável. “O relacionamento é uma construção de algo novo, ou seja, não é nem você e nem a outra pessoa, mas sim uma terceira coisa que depende da disposição dos dois para que ele seja alimentado e fortalecido de forma saudável. Compreendendo isso, a pessoa percebe que ela precisa estar muito bem consigo mesma para contribuir de forma saudável para essa construção. Se a dependência emocional está presente em um ou nos dois, qual será a qualidade dessa contribuição? Muito provavelmente posse, ciúmes, controle e inseguranças e isso ninguém quer em nenhum relacionamento”.
Por fim, Caio nos conta que é preciso nos atentar à qualidade dos nossos relacionamentos e buscar a superação da dependência emocional “Os sintomas da dependência emocional, vão ganhando espaço de forma silenciosa, mas seus efeitos contra o amor-próprio, autoconhecimento e autoestima são avassaladores, causando danos emocionais e comportamentais que podem influenciar nossa vida por muitos e muitos anos.”, finaliza.