A personagem [Bertoleza] ganha no surpreendente espetáculo uma nova leitura não apenas dentro da trama de O Cortiço, mas como representação de uma mulher de seu tempo.” – Dirceu Alves Jr. (Veja São Paulo)
“O musical Bertoleza, da Gargarejo Cia Teatral, é um sopro de sofisticação e inteligência…” – Eduardo Nunomura (Carta Capital)
“A entrega do elenco e as situações apresentadas são tão fortes que não há como não se envolver emocionalmente com a história.” José Cetra (APCA)
“Bertoleza representa o apagamento sistemático de uma parte da humanidade e, por consequência, dos feitos de indivíduos pertencentes às populações minorizadas”. – Amilton de Azevedo (Ruína Acesa)Após duas temporadas de sucesso, o premiado musical “Bertoleza”, da Gargarejo Cia Teatral, volta em cartaz no Teatro Arthur Azevedo, entre os dias 29 de junho e 9 de julho, de quinta a sábado, às 21h, e, aos domingos, às 19h. Os ingressos são gratuitos e devem ser retirados na bilheteria com uma hora de antecedência. Todas as sessões aos domingos têm intérpretes de Libras.
A montagem, com adaptação, direção e músicas de Anderson Claudir, que também assina a dramaturgia ao lado de Le Tícia Conde, é inspirada no livro “O Cortiço”, clássico naturalista de Aluísio Azevedo. Mas, desta vez, o público conhece a história sob ponto de vista da Bertoleza, uma mulher negra que é tão importante para a construção do romance quanto o próprio João Romão, o protagonista original.
O espetáculo ganhou os palcos paulistanos em 2020 e já conquistou público e crítica, em sessões sempre lotadas. “Bertoleza” recebeu o prêmio APCA de Melhor Espetáculo naquele mesmo ano.
A história
Na trama, o oportunista Romão propõe uma sociedade à escrava Bertoleza, prometendo comprar a alforria dela. Eles começam uma vida juntos e constroem um pequeno patrimônio formado por um enorme cortiço, um armazém e uma pedreira.
Depois de acumular capital considerável, o ambicioso João Romão já não sabe como se tornar mais rico e poderoso. Envenenado pelo invejoso Botelho, ele decide se casar com Zulmira, a filha de Miranda, um negociante português recentemente agraciado com o título de barão. Mas, para isso, precisa se livrar da amante Bertoleza, que trabalha de sol a sol para lutar pelo patrimônio que eles construíram juntos.
Para a companhia, o grande desafio foi fazer com que uma narrativa do século 19 questionasse e problematizasse as relações criadas nos dias de hoje. Por isso, o projeto iniciado em 2015 foi ganhando novos contornos. “Quisemos investigar uma identidade brasileira, que vem da diáspora africana, e pensar em como isso nos afeta artisticamente. Assim, podemos criar novos signos para essa geração e dar uma voz para essa terra periférica”, conta Claudir.
No processo, o coletivo procurou a força da figura de Bertoleza em outras mulheres negras brasileiras negligenciadas pela História. Durante a encenação, o elenco relembra as histórias da vereadora Marielle Franco, militante da luta negra assassinada em março de 2018; da escritora Carolina Maria de Jesus, famosa pelo livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada; da jornalista e professora Antonieta de Barros, defensora da emancipação feminina que foi apagada dos livros de História; da escritora Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira romancista brasileira; e da guerreira Dandara, que viveu e lutou no período colonial.
A protagonista do espetáculo é interpretada pela atriz Lu Campos. O elenco fica completo com Ali Baraúna (Botelho), Taciana Bastos (Zulmira), Roma Oliveira (João Romão), com os integrantes do coro Thiago Mota, Cainã Naira, Larissa Noel, Palomaris, Edson Teles e Welton Santos.
A direção musical é assinada por Eric Jorge, a direção de movimento, por Emílio Rogê, que contou com Taciana Bastos como coreógrafa associada; a preparação vocal, por Juliana Manczyk; e a preparação de elenco, por Eduardo Silva.
Relação profunda entre vida e obra
Para Lu Campos, interpretar Bertoleza tem um significado ainda mais profundo. No processo desde 2015, ela conta que vivenciou um chamado ancestral em 2017: suas antepassadas maternas deram-lhe a missão de quebrar o ciclo de opressão vivenciado por sua família desde os tempos de escravidão. “Espero que as mulheres pretas se sintam bem representadas na peça e a partir disso, busquem seus lugares de protagonismo nos variados âmbitos da vida”, conta.
Para a atriz, estar nesse processo contribui para a sua expansão de consciência. Em busca de mais respostas sobre sua ancestralidade, ela também cursou a pós-graduação em Matriz Africana pela FACIBRA/Casa de Cultura Fazenda Roseira. “As pessoas precisam perceber quão rica e diversificada é a matriz africana, por isso ela deve ser resgatada e valorizada. Afinal, a África é o ventre do mundo”, emociona-se.
Para esta temporada, a Gargarejo Cia. Teatral preparou uma série de palestras e rodas de conversa sobre a montagem e as mulheres que inspiraram a Bertoleza. Veja a programação completa abaixo.
Este projeto foi contemplado com o Edital de Apoio A Projetos Culturais de Múltiplas Linguagens para a cidade de São Paulo, da Secretaria Municipal de Cultura.
Sobre a Gargarejo Cia Teatral
Formada por uma equipe focada na perspectiva étnico-racial para aquilombar e empretecer saberes, a Gargarejo Cia Teatral conta com artistas de diversas áreas, como artes plásticas, dramaturgia, artes cênicas, direção, cenografia, musicalidade e produção. A companhia teve início em 2014, em Campinas, em parceria com renomadas instituições da região, como a Universidade de Campinas (UNICAMP), o Conservatório Carlos Gomes, a Estação Cultura de Campinas, as Prefeituras de Campinas, Sumaré e Vinhedo e o Lar dos Velhinhos de Campinas.
O coletivo está interessado em produzir arte popular, focado em uma perspectiva étnico-racial e refletindo sobre colonização versus identidade. Articulando a vivência periférica na cena como protagonista. Em 2015, iniciou uma pesquisa sobre O Cortiço, que resultou na microcena Bertoleza – uma pequena tragédia: ponto de partida para o processo de investigação que, em 2019, completa quatro anos. Em 2017, o grupo se estabelece na cidade de São Paulo e, durante esse período, realiza diversas experimentações cênicas e musicais, propõe leituras, debates, rodas de conversa e apresentações das canções.
SINOPSE
Adaptação musical de O Cortiço, de Aluísio Azevedo, obra clássica da literatura naturalista brasileira, em que o protagonismo é invertido. A voz agora é de Bertoleza: mulher, negra e escravizada que se relaciona com João Romão, um português ambicioso e oportunista. Bertoleza é o dedo na ferida, é o nó expulso da garganta, a voz que pergunta: E a Bertoleza?
FICHA TÉCNICA
Direção, adaptação, letras e assistência de produção: Anderson Claudir
Dramaturgia final: Anderson Claudir e Letícia Conde
Direção musical: Eric Jorge
Direção de movimento e coreografia: Emílio Rogê
Músicas: Anderson Claudir, Andréia Manczyk, Eric Jorge e Juliana Manczyk
Preparação vocal: Juliana Manczyk
Design de som: Sound Design Labsom
Preparador de elenco: Eduardo Silva
Coreógrafa associada: Taciana Bastos
Cenografia e figurino: Dani Oliveira
Assistente de cenografia e figurino: Gabriela Moreira
Visagista: Victor Paula
Iluminação: Andressa Pacheco
Projeção: Aline Almeida
Técnico de palco: Leonardo Barbosa
Elenco: Lu Campos, Ali Baraúna, Taciana Bastos, Roma Oliveira, Cainã Naira, Larissa Noel, Palomaris, Edson Teles, Thiago Mota e Welton Santos
Direção de produção: Andréia Manczyk
Assessoria de imprensa: Agência Fática – Bruno Motta Mello e Verô Domingues
SERVIÇO
Bertoleza, da Gargarejo Cia Teatral
Teatro Arthur Azevedo – Avenida Paes de Barros, 955 – Mooca
Temporada: 29 de junho a 9 de julho, de quinta a sábado, às 21h, e, aos domingos, às 19h
Ingresso: gratuito | Retirada na bilheteria com 1 hora de antecedência
Duração: 90 minutos
Recomendação etária: 12 anos
Acessibilidade: o espaço possui acessibilidade para pessoas com mobilidade reduzida | Todas as sessões aos domingos têm intérpretes de Libras.
Siga o grupo nas redes sociais: Facebook @gargarejociateatral e Instagram @gargarejocia
ATIVIDADES PARALELAS
Palestra “O processo de adaptação” – 29/6 e 6/7, às quintas, após o espetáculo
O diretor e dramaturgo do espetáculo Anderson Claudir aborda como se deu o processo de composição das músicas e adaptação da obra “O Cortiço”, de Aluísio Azevedo.
Palestra “As mulheres de Bertoleza” – 30/6,1º/7 e 2/7, após o espetáculo
O elenco feminino irá conversar com o público sobre as suas personagens e as personalidades discutidas na peça: Antonieta de Barros, Carolina Maria de Jesus, Maria Firmino dos Reis e Marielle Franco.
Rodas de conversa – 7/7, 8/7 e 9/7, após o espetáculo
O diretor e dramaturgo do espetáculo Anderson Claudir, junto ao elenco, irá promover uma conversa sobre a montagem. E o público será convidado a fazer questões sobre o processo e a obra.