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Com cerca de 300 mil pessoas, Marcha das Mulheres Negras toma Brasília

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© Bruno Peres/Agência Brasil

Uma enorme mulher negra inflável, de 14 metros, com uma faixa presidencial onde se lê “Mulheres Negras Decidem” foi o ponto de partida de centenas de caravanas que integraram a 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras por Reparação e Bem-Viver, nessa terça-feira (25), rumo à Esplanada dos Ministérios. A estimativa é de que cerca de 300 mil pessoas ocuparam as laterais do gramado da área central de Brasília.

Cláudia Vieira, representante do Comitê Nacional da Marcha das Mulheres Negras, responsável pela organização do movimento, explicou que não foi fácil chegar até esse dia e quer que a marcha deixe um legado. “A partir desse mosaico, a gente apresenta para o país, para o mundo e para o Estado brasileiro, para que entendam, de uma vez por todas, que é importante, necessário, é dever e direito olhar para a população negra.”
 

“Nós, mulheres negras, não merecemos ficar o tempo inteiro no final da fila e sermos tratadas, nessa sociedade, como segmento que pode esperar, que tudo para a gente fique para depois. Temos pressa, temos urgência!” 

Brasília (DF), 25/11/2025 – Boneco inflável na Marcha da Mulheres Negras, realizado na Esplanada dos Ministérios.
Foto: Daniella Almeida/Agência Brasil
Brasília (DF), 25/11/2025 – Boneco inflável na Marcha da Mulheres Negras, realizado na Esplanada dos Ministérios.
Foto: Daniella Almeida/Agência Brasil

Pelo governo federal, a ministra da Igualdade Racial (MIR), Anielle Franco, chegou à marcha cercada, de um lado, pela deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ), do outro pela também deputada Benedita da Silva (PT-RJ), exaltada por ser a primeira mulher negra a se tornar deputada federal (1987) e também senadora (1995) no Brasil.
 

Brasília (DF), 25/11/2025 – Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, ao lado da deputada Benedita da Silva, participa da Marcha de Mulheres Negras 2025. Foto: Leticia de Maceno/Instituto Marielle Franco
Brasília (DF), 25/11/2025 – Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, ao lado da deputada Benedita da Silva, participa da Marcha de Mulheres Negras 2025. Foto: Leticia de Maceno/Instituto Marielle Franco

Do alto de um dos carros de som, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, declarou que a presença do ministério simbolizava uma ponte entre movimento e Estado.

“Permaneceremos avançando, marchando por bem-viver e por reparação. Por todas as mães que perderam seus filhos e por todas aquelas que vieram antes de nós. Seguimos juntas em marcha, na positividade, hoje e sempre.”

 

 

 

 

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Do luto à luta

Durante o ato, a ministra lembrou da irmã, a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, assassinada em 2000 junto com o motorista dela, Anderson Gomes. Uma das palavras de ordem era “Marielle, presente. Marielle vive.”

O Instituto Marielle Franco esteve presente na Marcha Nacional das Mulheres Negras. A filha de Marielle, Luyara Franco, diretora executiva do instituto, reafirmou que não há democracia sem mulheres negras.

“Cada passo que damos aqui carrega a força de todas as mulheres negras que nos antecederam. Essa marcha é o nosso grito coletivo por justiça e dignidade, a prova viva de que a memória da minha mãe segue florescendo em cada uma de nós.”

A mãe de Anielle e Marielle, avó de Luyara e cofundadora do Instituto Marielle Franco, a advogada Marinete Silva, afirmou que marchar hoje é dizer ao Brasil que esse segmento não aceita mais ser silenciado.

 “Cada mulher negra aqui reivindica o direito de viver sem medo, de ter seu luto respeitado e sua voz reconhecida. Democracia só existe quando nossas vidas importam.

Brasília (DF), 25/11/2025 - Marcha das Mulheres Negras, realizada na Esplanada dos Ministérios. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Brasília (DF), 25/11/2025 - Marcha das Mulheres Negras, realizada na Esplanada dos Ministérios. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Violência de corpos negros

A dor das mulheres dessa família é compartilhada por outras mulheres negras. Um tapete, com incontáveis fotos de vítimas da violência em favelas do Rio de Janeiro nos últimos anos, ocupou metros do chão da concentração da marcha. Cada rosto uma história, um caso de violência.

Outra participante da marcha, Daniela Augusto, representa o Movimento Mães de Maio na Baixada Santista, em São Paulo. O grupo foi criado a partir de uma série de chacinas e assassinatos, em 2006.

As vítimas eram, em sua maioria, jovens negros, pobres e moradores de periferias. Estima-se que entre 450 e 600 pessoas tenham sido mortas.

Para Daniela, o Estado brasileiro é o primeiro violador dos jovens negros.

“Historicamente, no Brasil, a herança do processo de escravização é a perseguição, o controle e a eliminação de corpos negros.”

Ela pediu o fim da execução dos filhos que as mulheres negras amam. Para a militante, a violência e, pior, o feminicídio são ainda em maior número contra as mulheres negras, porque é agregado a esse contexto o machismo estrutural.

“Homens negros, indígenas, brancos, historicamente, entendem que o corpo da mulher é uma propriedade. Então, o machismo é muito introjetado a partir dessa lógica eurocêntrica de que a mulher deve servir, de que é um objeto.

“Aqui na marcha, em todos os espaços que a gente ocupa, lutamos contra a ideia de que nossos corpos são rentáveis, são utilizáveis ou são objetos de violência, do Estado, ou seja, do machismo, perpetrado especialmente pelos homens”, afirma Daniela Augusto, do Movimento Mães de Maio na Baixada Santista.  

Negras em espaços de poder

A alguns quilômetros, era possível ver uma grande bandeira do Brasil levada pelas participantes da marcha pedindo a indicação de uma mulher negra para a vaga de ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) deixada pela aposentadoria antecipada do ex-ministro Luís Roberto Barroso. Porém, a sabatina do advogado-geral da União (AGU), Jorge Messias, indicado à vaga pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está marcada para o dia 10 de dezembro, no Senado.
 

Brasília (DF), 25/11/2025 - Marcha das Mulheres Negras, realizada na Esplanada dos Ministérios. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Brasília (DF), 25/11/2025 - Marcha das Mulheres Negras, realizada na Esplanada dos Ministérios. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

A deputada Erika Kokay (PT-DF) relatou que esteve na primeira Marcha Nacional das Mulheres Negras, em 2015.

“Ela veio como lufada dos ventos dos quilombos, porque se esse país é de casas grandes, senzalas, é também de quilombos”.

Dez anos depois, a parlamentar vê a necessidade de políticas públicas para esse importante segmento da população brasileira e a ocupação de espaços de poder pelas mulheres.

“É uma marcha que deixará as suas marcas na Esplanada dos Ministérios e que traz a voz, o canto, a dança, a consciência negra para a capital da República.”

Docentes negras

A professora Maria Edna Bezerra da Silva, da Universidade Federal de Alagoas, reconhece o valor das cotas nas universidades e dos concursos públicos, mas participou da marcha para reivindicar o aumento da docência negra em instituições de ensino superior.

“Embora tenhamos avançado em uma política de cota para estudantes, os docentes ainda são muito poucos dentro das universidades. Ainda não temos, de fato, uma igualdade, uma paridade em número de professores e docentes negros nas instituições.

Entre os cerca de 300 mil participantes da marcha, havia homens que apoiam ativamente as causas das mulheres, por entender que a busca pela igualdade de gênero é uma responsabilidade de toda a sociedade.

Leno Farias, de um povoado de terreiro do Ceará, é um desses homens. Ele disse que é fruto do matriarcado e que as mulheres ocupam posições de liderança em sua vida.

“Minha descendência é toda regida por mulheres. Então estar na marcha é uma coisa muito normal. Elas são as líderes. Dentro da tradição, da minha perspectiva de cosmovisão, para mim, Deus é uma mulher”, resumiu.

Leno entende que a violência contra as mulheres é causada pela incompreensão masculina sobre a potência feminina. “Eles têm medo do poder que elas têm. Não conseguem conviver com isso.”
 

Brasília (DF) 25/11/2025  2ª Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver na Esplanada dos Ministérios. Participam mulheres negras de todo o Brasil de diferentes gerações, territórios e contextos sociais, e também mulheres afrodescendentes de mais de 40 países.  Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Brasília (DF) 25/11/2025  2ª Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver na Esplanada dos Ministérios. Participam mulheres negras de todo o Brasil de diferentes gerações, territórios e contextos sociais, e também mulheres afrodescendentes de mais de 40 países.  Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Brasília (DF) 25/11/2025 2ª Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver na Esplanada dos Ministérios. Participam mulheres negras de todo o Brasil de diferentes gerações, territórios e contextos sociais, e também mulheres afrodescendentes de mais de 40 países. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil – undefined

Resistência

Centenas de mulheres quilombolas se manifestaram na marcha para ir além do aspecto histórico de resistência desses espaços. Elas se consideram guardiãs de território e da biodiversidade.

Para essa comunidade, é importante que haja o reconhecimento e a  valorização dos quilombolas e seja dado apoio para que permaneçam em seus territórios. .

Aparecida Mendes, do território quilombola Conceição das Crioulas, no segundo distrito de Salgueiro (Pernambuco), explicou que sua comunidade contribui para a preservação cultural, conservação ambiental e segurança alimentar. Ela luta por direitos territoriais e combate ao racismo estrutural.

“É importante a gente mostrar para o mundo a nossa presença, a nossa existência, dizer para o Estado brasileiro, para os demais países que, na medida em que a gente dá visibilidade à nossa luta, está dizendo: ‘Existimos, somos demandantes de direitos, também cuidadores desses territórios, da riqueza do Brasil. Portanto, a dívida que os estados têm com o povo quilombola precisa ser levada em consideração.”, reivindica Aparecida.

O encerramento da 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras reforçou a organização das mulheres afro-brasileiras, afro-latinas e afro-caribenhas. Elas reafirmaram, em Brasília, a luta pela vida sem violência, pela igualdade plena de direitos e oportunidades. E deixaram claro que as pautas são inegociáveis para a construção de um futuro mais justo e democrático.
 

 

* Matéria alterada para ajuste na estimativa de público.

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Latino-americanas e caribenhas se juntam às brasileiras por igualdade

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© Bruno Peres/Agência Brasil

Racismo, sexismo e desigualdade social. A opressão que atinge mulheres pretas e pardas brasileiras, também é realidade que violenta aquelas de países latinos e caribenhos.

Por isso, centenas de mulheres afro latino-americanas, afro-caribenhas e da diáspora se juntaram a cerca de 300 mil participantes da 2ª Marcha das Mulheres Negras de 2025, que tomou a Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Uma delas é Juana Lopez, defensora dos Direitos Humanos e do combate à discriminação racial no Panamá. Juana vê a manifestação em Brasília como uma grande marcha global.

“Todos os países do mundo devem lutar pelas reivindicações das mulheres negras, por nossos direitos. Devem exigir respeito dos governos dos Estados. Por isso, viemos com tudo para essa marcha.”

Vinda da Cidade de Panamá, Juana lamenta que seu país não seja uma exceção nas discriminações praticadas contra as afrodescendentes e as mulheres não negras.

Brasília (DF), 25/11/2025 – Afro-latinas participam da marcha da mulheres negra na esplanada dos ministérios.
Foto: Daniella Almeida/Agência Brasil
Brasília (DF), 25/11/2025 – Afro-latinas participam da marcha da mulheres negra na esplanada dos ministérios.
Foto: Daniella Almeida/Agência Brasil

Ativistas exigem reparação, bem-viver e respeito nas ruas de Brasília – Daniella Almeida/Agência Brasil

Colômbia, nação com uma das maiores populações negras da América Latina, é o país da cantora e compositora Alba Nelly Mina. A afro-colombiana encara a marcha como um instrumento poderoso que as mulheres negras têm para mudar o mundo. “Todas temos o direito ao bem-viver e de estar aqui estamos para apoiá-los porque a luta das mulheres é de todas e importa a todos.”

A compatriota dela é María Elvira Solís Segura, atriz, escritora e cantora oriunda de Tumaco, do departamento de Nariño, localizado na costa do Pacífico. Seu ativismo político é dedicado ao apoio aos antepassados e à sabedoria comunitária. “Lutamos por dignidade, por viver bem, por liberdade também.”

Diferentemente do Brasil, onde as pessoas autodeclaradas negras somam cerca de 56% da população, no Uruguai, apenas 10% das pessoas se identificam como afrodescendentes. E justamente representando este contingente do país platino que veio para a marcha a jovem Giovana León, da cidade uruguaia de Canelones.

Giovana relata diferentes violências que as mulheres negras sofrem todos os dias. “A violência principal que vivemos é a racial, que sofrem as crianças e adolescentes e seguem adiante sofrendo em todos os momentos e em todos os lugares onde estamos habitando.”

Para ela, a marcha é necessária. “Porque todas as mulheres têm que ser visibilizadas neste dia e temos o direito de viver uma vida sem violência.”

Brasília (DF), 25/11/2025 – Afro-latinas participam da marcha da mulheres negra na esplanada dos ministérios.
Foto: Daniella Almeida/Agência Brasil
Brasília (DF), 25/11/2025 – Afro-latinas participam da marcha da mulheres negra na esplanada dos ministérios.
Foto: Daniella Almeida/Agência Brasil

De Havana, capital cubana, Maydi Estrada Bayona, professora da Faculdade de Filosofia e História da Universidade de Havana, visita o Brasil pela primeira vez. Mas vem de longe a discussão dela acerca de temas relacionados à discriminação e violência contra pessoas negras. A professora destaca que a marcha é um acontecimento histórico que faz justiça reparativa às memórias dos ancestrais que lutaram pela reivindicação do direito ao tecido da vida, pelo direito de amar, de sonhar, às terras, aos próprios corpos e ao conhecimento.

E hoje, nossas novas gerações são donas destes corpos que estão gritando, porque esses problemas continuam, são cíclicos. Então, este é um ato de liberdade, é um ato de justiça reparativa.”

No Peru, conhecido pela presença dos povos originários, também há registro de escravidão negra no período colonial espanhol. A peruana Ernestina Uchoa é descendente de africanos escravizados e direto do distrito de El Carmen, em Chincha (Peru), se juntou a outras integrantes da Rede de Mulheres Afro Latino-americanas, Afro-caribenhas e da Diáspora (RMAAD), uma organização transnacional de combate ao racismo e à desigualdade de gênero através da articulação de políticas e do fortalecimento das lutas das mulheres negras em toda a região.

Ernestina Uchoa está na capital do Brasil para dizer que é necessário lutar pela igualdade e o respeito às mulheres negras.

“Porque as mulheres merecem respeito, igual a qualquer outra mulher. Por isso estou aqui, unida a todas as minhas irmãs.”

O ativismo das mulheres negras está presente também em Honduras. Quem viajou milhares de quilômetros e agora engrossa o coro das vozes latino-americanas e caribenhas é a hondurenha Jimena Calderon.

“Estamos todas unidas para tecer juntas um melhor caminho decolonial e antipatriarcal. Vamos juntas dizer que esta marcha vale a pena e transformará nossas vidas.”

Realizada pela segunda vez, após dez anos, a Marcha das Mulheres Negras – 2025, para essas mulheres, não se encerra neste 25 de novembro. À reportagem da Agência Brasil, muitas mulheres relataram que voltam a seus territórios estimuladas a lutar por acesso à saúde, educação de qualidade, emprego e renda, visibilidade em censos e estatísticas, e pelo fim da violência contra mulheres negras.

Nesta quarta-feira (26), todas as mulheres participantes da mobilização ainda podem participar das atividades da Semana por Reparação e Bem-Viver.

 

 

 

 

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Economia

Governo Central registra superávit de R$ 36,5 bilhões em outubro

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© Marcello Casal Jr/Agência Brasil/Arquivo

As contas do Governo Central —Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social — registraram um superávit primário de R$ 36,5 bilhões em outubro, informou o Tesouro Nacional nesta quarta-feira (26). Superando as expectativas, o resultado é o quarto melhor para o mês na série histórica, com início em 1997.

Segundo a pesquisa Prisma Fiscal, levantamento com instituições financeiras divulgado pelo Ministério da Fazenda, os analistas estimavam superávit primário de R$ 32,2 bilhões em outubro. Por se tratar de início de trimestre, quando se concentram o pagamento de tributos por instituições financeiras, outubro costuma registrar superávits.

Apesar do resultado positivo, o saldo ficou abaixo do observado no mesmo mês de 2024, quando o superávit foi de R$ 41 bilhões, em valores atualizados pela inflação. O resultado primário representa a diferença entre receitas e despesas do Governo Central, sem os juros da dívida pública.

No acumulado de janeiro a outubro, o governo apresenta déficit primário de R$ 63,7 bilhões, o que mantém pressão sobre o cumprimento da meta fiscal. Para este ano, a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) estipula meta de déficit zero, com margem de tolerância de 0,25 ponto percentual do Produto Interno Bruto (PIB), que permite déficit de até R$ 31 bilhões.

O resultado negativo de até R$ 31 bilhões, no entanto, exclui despesas extraordinárias, como precatórios e o reembolso de aposentados e pensionistas afetados pelas fraudes no Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).

Arrecadação recorde

O desempenho das contas públicas em outubro foi impulsionado pela arrecadação recorde em outubro, especialmente Imposto de Renda (IR) e Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

No caso do IR, o aumento refletiu o crescimento da massa salarial, vinculado ao crescimento do emprego, e o rendimento de aplicações em renda fixa, estimulado pelos juros altos. No caso do IOF, a alta reflete o decreto que elevou o tributo, restabelecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), após ser derrubado pelo Congresso.

Despesas

Apesar do aumento nas receitas, o resultado primário de outubro veio acompanhado por forte aumento de despesas. Elas subiram 9,2% acima da inflação na comparação com outubro do ano passado, influenciadas sobretudo pela Previdência Social, por gastos com saúde e pelo pagamento de precatórios.

Principais números de outubro:

  • Superávit primário: R$ 36,5 bilhões
  • Superávit em outubro de 2024: R$ 41 bilhões
  • Receita líquida: R$ 228,9 bilhões (+4,5% em termos reais)
  • Despesas totais: R$ 192,4 bilhões (+9,2% em termos reais)
  • Resultado do Tesouro: superávit de R$ 57,4 bilhões
  • Resultado da Previdência: déficit de R$ 20,7 bilhões
  • Resultado do Banco Central: déficit de R$ 152 milhões

Acumulado do ano (janeiro e outubro):

  • Déficit primário: R$ 63,7 bilhões
  • Déficit no mesmo período de 2024: R$ 62,5 bilhões
  • Receita líquida: R$ 1,915 trilhão (+3,7% acima da inflação)
  • Despesas totais: R$ 1,979 trilhão (+3,3% acima da inflação)
  • Investimentos: R$ 62,59 bilhões (+2,6% acima da inflação)
  • Déficit em 12 meses: R$ 41,9 bilhões (0,35% do PIB)

O que puxou as receitas:

  • Imposto de Renda: +R$ 4,6 bilhões
  • IOF: +R$ 2,3 bilhões
  • Receitas administradas pela Receita Federal: +5,5% acima da inflação
  • Dividendos de estatais: R$ 2,8 bilhões em outubro, conta nenhum dividendo no mesmo mês de 2024.

O IOF foi impulsionado por alterações recentes na legislação, especialmente nas operações com moeda e crédito empresarial.

O que aumentou as despesas:

  • Saúde: +R$ 6,3 bilhões
  • Benefícios previdenciários: +R$ 2,4 bilhões
  • Precatórios e decisões judiciais: +R$ 1,5 bilhão
  • Complementação ao Fundef/Fundeb: +R$ 1,3 bilhão
  • Investimentos públicos: R$ 7,6 bilhões em outubro (+27,7% acima da inflação)

O crescimento das despesas com a Previdência Social foi influenciado pelo reajuste real do salário mínimo e pela ampliação do número de beneficiários.

Meta fiscal

Apesar do superávit de outubro, o resultado no ano ainda está longe da meta de déficit zero definida pelo arcabouço fiscal.

Margens permitidas:

Tolerância: déficit de até 0,25% do PIB, cerca de R$ 31 bilhões, segundo arcabouço fiscal

Exclusão da meta: até R$ 44,5 bilhões de precatórios (dívidas do governo com sentença judicial definitiva) e gastos com o ressarcimento das fraudes no INSS

Déficit sem descumprir meta do arcabouço: até R$ 75,8 bilhões

Situação preocupante

Mesmo assim, a situação preocupa. O governo projeta déficit de R$ 75,7 bilhões em 2025, no limite da banda. As estatais federais registram rombo previsto de R$ 9,2 bilhões, acima da meta da LDO.

A projeção para o déficit das estatais foi piorada com a inclusão de R$ 3,3 bilhões do prejuízo dos Correios, que fez o governo contingenciar R$ 3,3 bilhões na última sexta-feira (21) .

Para cumprir a meta fiscal de déficit de até R$ 31,5 bilhões, o governo contingenciou R$ 3,3 bilhões e mantém R$ 7,7 bilhões bloqueados no total. O bloqueio é adotado quando os gastos previstos superam o limite imposto pelo arcabouço fiscal. Já o contingenciamento é aplicado quando há frustração de receitas e risco de descumprimento da meta fiscal.

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Educação

Uso de IA entre alunos e professores exige políticas de segurança

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© Ana/Cetic.br

Estudo qualitativo “Inteligência Artificial na Educação: usos, oportunidades e riscos no cenário brasileiro”, realizado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), com alunos e professores do ensino médio de escolas públicas e privadas das capitais de São Paulo e Pernambuco, encontrou um universo de uso indiscriminado dessa nova tecnologia. Pesquisa anterior (TIC Educação), divulgada em setembro pelo Cetic.br, já havia apontado ampla adoção da IA no ambiente escolar brasileiro, com 70% dos alunos do ensino médio, cerca de 5,2 milhões de estudantes, e 58% dos professores utilizando ferramentas de IA generativa em atividades escolares.

“Um uso quase selvagem, porque eles usam para tudo, desde pesquisar uma palavra, até entender uma dor que estão sentindo, receita, lembrete, para várias atividades escolares, anotações, para fazer resumo, para realizar tarefas inteiras, até para suporte emocional. Eles falam bastante disso também, que usam como terapeuta, como conselheiro. Enfim, um uso bastante diverso e amplo do ponto de vista dos alunos”, disse à Agência Brasil a coordenadora da pesquisa, Graziela Castello. O trabalho de campo do estudo foi efetuado entre os meses de junho e agosto de 2025. O resultado foi divulgado nesta terça-feira (25), no seminário INOVA IA 2025, realizado no Rio de Janeiro.

Também os professores já fazem uso bastante intenso da IA generativa para preparar aula, para ter como apoio a atividades pedagógicas. Segundo Graziela, o que há de convergente entre os dois grupos é que ambos estão fazendo esse uso sem nenhuma mediação, sem orientação, sem supervisão ou regramento dado pelas escolas ou por outras instituições.

“E eles querem informação, querem saber como usar de maneira ética, segura, sem riscos”. Ou seja, o uso é muito intenso, mas ainda nada orientado e muito por conta própria.

De acordo com o estudo, a solução passa pela necessidade de acelerar o processo em termos de regimento, protocolos e políticas que estabeleçam, minimamente, uma baliza para uma visão mais segura, acompanhada de ações com escala que capacitem professores e alunos. Daí a necessidade de investir em formação, mas também em regulação, como uma maneira de dar normas e orientações para que as pessoas, nesse primeiro momento, saibam como fazer e o que não fazer e ter um pouco mais clareza para começar a navegar nesse universo, indicou a coordenadora.

Riscos

Graziela Castello explicou que, ao contrário do que aconteceu com a internet, que já entrou na vida das pessoas de uma maneira muito acelerada, “a IA entrou chutando a porta. Entrou e eles (alunos e professores) usam, e usam mesmo, mas também reconhecem os riscos desse uso”.

O estudo revela que apesar de utilizarem muito a IA, os alunos têm medo de desaprender, de “emburrecer” com o uso dessas tecnologias. Têm medo de ficarem dependentes, de não conseguirem criar ou de exercer a criatividade, de perderem a identidade.

“(Medo) de que, agora, o processo fique tão pasteurizado que eles percam a nuance daquilo que são”. Eles são entusiastas da IA, mas têm consciência, têm receio e pedem informação. Graziela destacou que essas são notícias importantes para os gestores públicos sobre a urgência em estabelecer políticas e ações que ajudem a orientar esse uso de um jeito proveitoso e oportuno. “E tentando minimizar os riscos, que não são poucos”.

Do mesmo modo, os professores também já fazem uso da IA generativa, principalmente como suporte para atividades cotidianas.

“Eles reconhecem que tem um potencial forte para redução de tarefas repetitivas, como suporte para conseguir ter outros recursos, atividades mais alternativas, inclusive para gradações de tarefas. Tem um potencial de tentar customizar atividades para os perfis dos alunos”.

Estudantes com diferentes níveis de aprendizado podem ter acesso a diferentes atividades propostas. Alunos com deficiência, por exemplo, poderiam ter acesso a materiais mais elaborados para aquilo que for conveniente para eles. A pesquisa evidencia que os professores também fazem isso de maneira experimental e por conta própria, sem muita orientação, e também querem informação sobre como usar e em que momento da escola.

Os educadores sabem que os alunos estão usando a IA, mas não sabem como mediar esse uso e, portanto, ficam sem ação. Os professores se mostraram muito preocupados porque sabem que os alunos fazem uso da IA de maneira autônoma, não conseguiram relatar benefícios neste momento e se preocupam muito com o uso que estão vendo. Para os educadores, essa utilização da IA pelos estudantes tem limitado sua capacidade de aprendizado, eles têm piorado na capacidade de fazer redação e na linguagem inclusive, além do uso como suporte emocional, que eles têm visto no dia a dia, de maneira frequente.

“Eles querem informação. Acham que a escola é lugar para formação de alunos e professores, mas também se sentem sobrecarregados. Eles também problematizam isso: quem deveria dar essa informação e em que condições”, explicou.

Desigualdades

A pesquisa apurou diferenças também entre alunos de escolas públicas e privadas no uso da IA. O que existe de diferença mais fundamental são as desigualdades de acesso à infraestrutura, que já são anteriores à vinda da IA. Alunos de escolas privadas têm acesso a outros equipamentos, como computador em casa, o que torna o uso da IA mais proveitoso. Já se o aluno está restrito ao celular, tem muito mais dificuldade de operar essas ferramentas. Com o conteúdo sendo pago ou gratuito, isso já representa mais uma camada adicional de desigualdade, disse a coordenadora da pesquisa. Com o serviço pago, há possibilidade de se fazer usos mais oportunos.

“Fundamentalmente, você tem ainda a reprodução de desigualdades em infraestrutura digital que vão ampliar, se não forem contornadas, ainda mais essa desigualdade de oportunidades entre escolas públicas e privadas”.

A adoção segura dessa tecnologia e a construção de políticas públicas para orientar o uso da IA têm de ter como precedente o letramento, ou seja, orientação para alunos e professores sobre como funciona essas ferramentas.

“Acho que a primeira fase é dar letramento, conhecimento para a população como um todo sobre o que significa essa tecnologia, como ela é construída, quem detém esses dados hoje em dia, quem são os donos das informações”.

Outra preocupação importante é saber se esses dados, as ferramentas de IA, são adaptáveis ao contexto brasileiro. Algumas perguntas são: Será que ao trabalhar com os estudantes não estamos dando dados do contexto de outros países? Será que a gente tem tecnologia própria que garanta que estamos sendo fidedignos aos problemas internos do Brasil?

“Tem uma série de enfrentamentos que têm de ser feitos simultaneamente. A questão é que a coisa (IA) entrou com uma velocidade e a gente vai ter que trocar a roda do carro com ele andando”, apontou Graziela Castello.

Outras questões de destaque visam a criação de um pensamento crítico, como os estudantes podem checar as informações que recebem. Eles entendem que há erros factuais, expressões preconceituosas e negativas, que não conseguem gerenciar. Esse é um outro ponto de atenção: saber como desenvolver essa habilidade técnica, as possibilidades dessa ferramenta sem redução da capacidade criativa dos alunos, Mas é o enfrentamento que permite se avançar na discussão de construção de um pensamento crítico, a fim de que não se reproduzam possíveis erros e vieses que vêm dessas tecnologias, analisou a coordenadora da pesquisa. 

 

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