Pacientes com câncer têm duas vezes mais chances de desenvolver problemas cardíacos após o diagnóstico e tratamento da doença. A conclusão vem de um estudo internacional que acompanhou mais de 19 mil idosos acima de 70 anos nos Estados Unidos e na Austrália.
Os pesquisadores monitoraram 15.454 participantes sem histórico de câncer. Durante o período de observação, 1.392 desenvolveram a doença. Nesses pacientes, a taxa de problemas cardiovasculares aumentou de 10,3 para 20,8 ocorrências por mil pessoas ao ano. A pesquisa foi conduzida pelo consórcio internacional Aspree.
A maioria dos problemas cardíacos em pacientes com câncer decorre dos próprios tratamentos. Esse fenômeno recebe o nome de cardiotoxicidade relacionada ao tratamento do câncer, conforme explica o estudo.
Medicamentos quimioterápicos da classe das antraciclinas, como a doxorrubicina, podem causam cardiomiopatia – condição que dificulta o bombeamento de sangue pelo coração. O PET-CT Dedicado Oncológico permite monitorar o metabolismo tumoral e avaliar a resposta aos tratamentos, possibilitando ajustes na terapia quando necessário.
Pesquisas sobre o tema apontam que medicações e métodos utilizados no tratamento oncológico podem acarretar efeitos adversos, como insuficiência cardíaca, arritmias e hipertensão arterial. O acompanhamento médico pode se estender por anos após o fim do tratamento, já que esses efeitos colaterais tendem a se manifestar no longo prazo.
Dados publicados em junho pelo Journal of the American College of Cardiology mostram que tratamentos sistêmicos prévios, especialmente a quimioterapia, aumentam o risco cardiovascular, mesmo em pacientes em remissão. Uma meta-análise publicada no EClinicalMedicine no mesmo período confirma essa tendência e aponta a necessidade de monitoramento mais rigoroso dos fatores de risco cardiovascular após a remissão.
Tipos de tumor que mais ameaçam o sistema cardiovascular
Cada tipo de câncer apresenta diferentes níveis de risco para o sistema cardiovascular, conforme as pesquisas. O câncer de pulmão tem alta probabilidade de metastatizar para o coração e frequentemente requer tratamento com antraciclinas. Leucemias figuram entre os tipos mais associados a complicações cardiovasculares. Linfomas, tanto Hodgkin quanto Não-Hodgkin, também apresentam riscos.
Estudos apresentados no American Society of Clinical Oncology – ASCO 2025 analisaram pacientes com câncer de próstata metastático resistente à retirada do órgão. Os resultados revelaram maior incidência de eventos cardiovasculares graves, como angina instável, revascularização e fibrilação atrial, em pacientes tratados com abiraterona, independentemente de histórico cardíaco prévio.
O câncer de bexiga também recebe tratamento com antraciclinas, aumentando o risco cardiovascular. Tumores cardíacos primários, embora raros, representam apenas 0,03% de todos os diagnósticos de câncer. Sarcomas cardíacos são os mais comuns entre os tumores malignos primários do coração e afetam mais homens, com maior incidência entre os 30 e 50 anos.
Radiação torácica aumenta chances de infarto e arritmias
A radioterapia torácica está associada ao aumento de ataques cardíacos, insuficiência cardíaca e arritmias. Terapias direcionadas como o trastuzumabe (Herceptin), usado no tratamento do câncer de mama, podem reduzir a capacidade de bombeamento do coração e levar à insuficiência cardíaca congestiva. Casos raros de miocardite foram registrados com o uso de inibidores de checkpoint imunológico, como mostram as pesquisas.
Um médico cardiologista especializado em cardio-oncologia trabalha junto com a equipe oncológica para monitorar variáveis clínicas e intervir quando necessário. A colaboração entre cardiologistas e oncologistas permite o monitoramento abrangente de todas as variáveis clínicas, com intervenções para substituir medicamentos que apresentem riscos cardiovasculares quando necessário.
Especialidade da medicina integra cuidados cardíacos e oncológicos
A cardio-oncologia surgiu para gerenciar problemas cardíacos antes, durante e após o tratamento do câncer. A especialidade foca em três áreas principais: identificação de pacientes de alto risco, prevenção de danos cardíacos durante o tratamento e monitoramento contínuo do paciente.
Antes do início do tratamento oncológico, médicos avaliam condições crônicas como hipertensão e diabetes que aumentam o risco cardiovascular. Essas informações direcionam o plano de tratamento e a escolha das terapias. O monitoramento utiliza ecocardiografia, ressonância magnética e tomografia computadorizada para detectar alterações cardíacas precocemente.
Procedimentos como cateterismo e angioplastia podem ser realizados em pacientes com câncer, mas exigem avaliação prévia da predisposição a trombose, níveis de plaquetas no sangue e potencial de interação medicamentosa. A escolha dos dispositivos usados no processo também deve ser individualizada para cada paciente.
A cardio-oncologia ganhou destaque em importantes eventos médicos de 2025. O Congresso Internacional de Cardiologia da Rede D’Or reservou espaço para a especialidade, abordando desde a prevenção da cardiotoxicidade causada por tratamentos oncológicos até o papel da Inteligência Artificial no setor.
Tabagismo, obesidade e sedentarismo aumentam o risco de câncer e doenças cardiovasculares, conforme o Ministério da Saúde. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima 704 mil casos de câncer no Brasil este ano. O acompanhamento multidisciplinar, envolvendo oncologistas, cardiologistas e médicos de atenção primária, tem se mostrado fundamental para melhorar o prognóstico desses pacientes.