A NR-1 obriga empregadores a incluírem os riscos psicossociais na gestão de saúde e segurança do trabalho. Ignorar o estresse crônico pode configurar descumprimento da norma
Embora o uso de capacetes e EPIs ainda seja a imagem mais comum quando se fala em saúde e segurança no trabalho, a legislação brasileira já deu passos importantes rumo à proteção da saúde mental dos trabalhadores. A nova redação da NR-1 (Norma Regulamentadora 1) determina que empregadores devem identificar e controlar todos os riscos ocupacionais, incluindo os psicossociais.
Essa atualização coloca o estresse crônico e o Burnout no centro das obrigações legais das empresas, como alerta o engenheiro de segurança do trabalho e especialista em saúde mental corporativa Lailson Lima, vice-presidente do Grupo Reinventando a Educação e CEO do ConCuidado. “A saúde mental passou a ser reconhecida formalmente como responsabilidade das organizações. Se a empresa não mapeia os sinais de esgotamento e não os inclui no seu Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO), há descumprimento da norma”, afirma.
Ele lembra que, além dos danos à saúde, a negligência com os fatores psicossociais traz passivos trabalhistas, aumento de afastamentos, perdas financeiras e impacto direto na produtividade. “Não estamos falando de mimimi. Estamos falando de risco mensurável”, reforça.
Os 5 sinais de estresse que podem levar ao Burnout, segundo a Engenharia de Segurança:
1️⃣Insônia ou sono não reparador
- Impacto na Segurança: Funcionários com privação de sono têm reflexos lentos, falham na tomada de decisão e correm mais riscos de acidentes operacionais.
- Neurociência aplicada ao trabalho: O estresse ativa constantemente a amígdala cerebral, que mantém o cérebro em estado de alerta. Isso bloqueia o sono profundo e reduz a produção de melatonina, dificultando o descanso verdadeiro.
- NR-1 e Engenharia: Esse sintoma pode ser reflexo direto de jornadas mal dimensionadas, pressão excessiva por metas ou ambientes sem pausas adequadas – todos fatores que devem ser mapeados no inventário de riscos ocupacionais.
2️⃣ Perda de memória e lapsos de atenção
- Impacto na Segurança: Um colaborador que esquece procedimentos, ordens de serviço ou que se distrai facilmente pode gerar falhas operacionais graves.
- Explicação neurocientífica: Altos níveis de cortisol prejudicam o hipocampo, área responsável pela memória e organização de informações. Isso gera uma sensação constante de confusão mental.
- NR-1 e Engenharia: Aqui entra a importância da AEP, Análise Ergonômica Preliminar, avaliação ergonômica das tarefas e da organização do trabalho (NR17). Pressões psicológicas prolongadas são fatores de risco que devem ser integradas ao PGR – Programa de Gerenciamento de riscos.
3️ Reações explosivas e instabilidade emocional
- Impacto na Segurança: Funcionários emocionalmente instáveis afetam diretamente o clima do time, geram conflitos e aumentam a tensão no ambiente de trabalho – o que eleva o risco de acidentes por falhas humanas. Colaboradores que se relacionam mal, não tem tanta vontade de convivência e isso pode impactar em sua produção.
- O que acontece no cérebro: O desequilíbrio entre o córtex pré-frontal (autocontrole) e a amígdala faz com que a pessoa reaja sem pensar, literalmente. O cérebro entra em modo “luta ou fuga”.
- NR-1 e Engenharia: Programas de prevenção precisam incluir medidas organizacionais que reduzam o estresse: feedbacks estruturados, ambiente com segurança psicológica, escuta ativa e canais de acolhimento e de denúncia. Isso é medida preventiva e corretiva, prevista pela norma.
4️⃣ Fadiga crônica mesmo sem esforço físico
- Impacto na Segurança: A fadiga compromete a vigilância, o raciocínio e o tempo de resposta do trabalhador. Em áreas operacionais, isso pode ser fatal.
- Por que isso acontece: O estresse reduz a eficiência de nossos sistemas e a regeneração de nossas células. Sem energia celular suficiente, o corpo e a mente entram em colapso progressivo.
- NR-1 e Engenharia: A gestão de jornadas e pausas obrigatórias faz parte da prevenção. Ignorar isso é falha direta no cumprimento da norma.
5️⃣ Sensação constante de incompetência
- Impacto na Segurança:
Colaboradores que se sentem constantemente inúteis ou sobrecarregados tendem a errar mais, evitar tarefas críticas e até adoecer por completo. - O que a ciência diz:
Com o excesso de estresse, o cérebro entra em looping. O profissional passa a acreditar que está sempre em débito, o que reduz sua autoestima e produtividade. - NR-1 e Engenharia: A saúde mental deve ser tratada como um fator de desempenho e risco ocupacional. Avaliações de clima, escuta ativa e apoio psicológico devem ser incorporados aos programas de SST – Saúde e Segurança do Trabalho.
Risco invisível, impacto real
De acordo com o especialista, esses sintomas não são subjetivos nem devem ser tratados como questões individuais. Eles fazem parte de um cenário concreto de risco ocupacional e precisam ser mapeados no Inventário de Riscos de qualquer organização que queira cumprir corretamente a NR-1.
“As empresas precisam entender que saúde mental é fator de desempenho. O trabalhador emocionalmente esgotado não rende, não se engaja, erra mais e adoece. Incluir esse tema no GRO não é só uma obrigação legal, é também uma estratégia inteligente de gestão”, pontua Lailson Lima.
Além de engenheiro de segurança, Lailson é professor, palestrante, pesquisador e vice-presidente do grupo Reinventando a Educação, além de CEO do ConCuidado, braço do grupo que atua diretamente com SST e riscos psicossociais.
Sobre Lailson Lima
Engenheiro de Segurança do Trabalho, professor, pesquisador e ativista da saúde mental no trabalho. Vice-presidente do Grupo Reinventando a Educação e CEO do ConCuidado.
Com ampla atuação na formação de líderes, Lailson é especialista em gestão de riscos psicossociais no ambiente de trabalho, desenvolvendo metodologias que integram segurança, saúde mental e desempenho organizacional. É Engenheiro de Segurança do Trabalho e Meio Ambiente, com MBA em Gestão Escolar pela USP e MBA em Gestão de Hotelaria Hospitalar pela Faculdade São Camilo. Possui ainda formação em Síndrome de Burnout pela PUC e dedica sua carreira a promover ambientes de trabalho mais saudáveis, seguros e produtivos.
É professor no ensino técnico e superior, palestrante e pesquisador, além de fundador do ConCuidado, movimento que fortalece lideranças comprometidas com uma cultura organizacional baseada no cuidado.
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