Animal foi acompanhado desde o ovo, em 2007, e agora ajuda biólogos a entenderem os impactos da subida do mar e das mudanças climáticas nestas aves; parceria com o Zoo de SP vai ampliar ações de conservação
No início do mês de novembro, a equipe do projeto Bicudinho-do-brejo comemorou uma grande conquista para a ciência e a preservação da espécie. Durante expedição científica, os pesquisadores avistaram Rosaldo, um pequeno pássaro ameaçado de extinção que completou 16 anos em outubro. Com o aniversário veio também o recorde de tempo de monitoramento de um indivíduo desta linhagem na natureza no Brasil.
A ave foi localizada num pequeno ninho na Ilha do Jundiaquara, em Guaratuba, no sul do Paraná, em 2007, e com nove dias foi marcada com duas anilhas pela pesquisadora Bianca Reinert, que dedicou a vida ao estudo da espécie.
De acordo com Giovana Sandretti-Silva, coordenadora do projeto, os achados decorrentes da pesquisa de Bianca e de outros membros do grupo “contribuem para entender os impactos da subida do mar e de eventos climáticos na sobrevivência dos indivíduos, na capacidade de gerar filhotes e como a espécie responde a estes eventos que estão reduzindo a sobrevivência dos indivíduos e a capacidade de reprodução”.
Neste sentido, complementa Giovanna, “comparamos as estratégias reprodutivas do Rosaldo ‘vovô’ com o tempo em que ele era jovem, bem como com seus ‘vizinhos’ mais novos. A proposta é verificar se existe capacidade de aprendizado com a experiência, o que diminuiria a preocupação com a sobrevivência da espécie em consequência da mudança climática”.
A vida de Rosaldo
Rosaldo foi cuidado e ensinado por seu pai até os 54 dias de vida quando partiu para suas próprias aventuras. Ao completar sete meses de vida encontrou uma parceira e foi morar no território em que vive até hoje, batizado em sua homenagem. Esse primeiro ‘casamento’ durou quatro anos e gerou três filhotes. Sua esposa, já idosa, acabou morrendo no início de 2012.
Alguns meses depois, Rosaldo achou o grande amor de sua vida com quem foi formou uma família por mais de nove anos. O casal deu origem a outros oito filhotes. No entanto, em 2021, essa parceira de vida, que já completava 10 anos, também sumiu. A união com uma terceira parceira aconteceu ainda em 2021 mas não gerou descendentes, apesar das tentativas constantes.
A troca de parceiros é comum para a espécie que vive em casais. As uniões duram a vida toda ou apenas um período, quando ocorre morte do parceiro ou mesmo ‘divórcios’.
Parceria com o Zoológico de São Paulo
Com o objetivo de viabilizar a execução de ações de conservação, o projeto em prol da espécie acaba de firmar uma parceria com o Zoológico de São Paulo. “Serão 10 anos de trabalho conjunto com o objetivo de aumentar a quantidade de ambientes de vida do bicudinho-do-brejo e ajudar para que mais filhotes nasçam e sobrevivam”, esclarece Marcos R. Bornschein, professor da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e descobridor da espécie.
Marina Somenzari, bióloga do Zoológico de São Paulo, explica que a instituição se dedica a conservar a diversidade da vida na Terra e reconheceu a urgência em ajudar o bicudinho-do-brejo, uma espécie ameaçada de extinção. “Ajudando o bicudinho, apreenderemos também como proteger muitas outras espécies brasileiras que necessitam de cuidados especiais”, conclui Marina Somenzari.
Os projetos serão viabilizados por meio da cooperação técnica e científica das equipes do Projeto Bicudinho-do-brejo e do Zoológico de São Paulo, que contam com profissionais experientes na conservação da biodiversidade brasileira.
Aves na natureza
Algumas aves podem viver muitos anos, como uma cacatua pet que chegou a 120 anos, segundo o blog A-ZAnimals (https://a-z-animals.com/blog/oldest-birds-of-all-time/). Papagaios e outros parentes são conhecidos por viverem muitos anos, assim como flamingos, em especial, quando sob cuidados humanos. A ave mais velha conhecida na natureza é uma fêmea de albatroz chamada Wisdom, que fez 71 anos quando foi registrada no final do ano passado. Já os passarinhos, normalmente vivem menos, por volta de 10 anos a 15 anos.
O bicudinho-do-brejo mais velho já registrado pelo projeto viveu 16 anos e dois meses, marca que em breve deve ser ultrapassada por Rosaldo. A ave continuará sendo monitorada pelas equipes com a finalidade de proteger a espécie da extinção. Em razão do tempo de convivência com os biólogos do projeto, a ave se mantém tranquila em relação à proximidade com pessoas. A próxima expedição da equipe do projeto está marcada para a segunda semana do mês de Dezembro.
“Rosaldo já não se importa com a presença dos humanos e há cada 30 minutos ele aparece para ser fotografado. Porém, ele vive bem no meio do brejo, o que dificulta o seu encontro” afirma Gabriel Marchi, jornalista e documentarista da vida selvagem, parceiro do Projeto Bicudinho-do-brejo.