Estresse, ansiedade e depressão podem intensificar quadros de dor crônica. Especialistas alertam: integrar corpo e mente é essencial para a recuperação e qualidade de vida
A cena é comum nos consultórios: pacientes chegam em busca de alívio para dores nas costas, ombros ou cabeça, mas, ao longo da avaliação, revelam um histórico de estresse, ansiedade ou até mesmo depressão. Mais do que coincidência, essa relação tem base científica. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 23% da população brasileira convive com algum transtorno de ansiedade e 5,8% sofre de depressão, taxas que colocam o Brasil entre os países mais afetados do mundo.
Essas condições emocionais não impactam apenas o humor ou a disposição: elas modulam a forma como o corpo percebe a dor. Estudos apontam que pacientes com transtornos mentais têm até três vezes mais chances de desenvolver dores crônicas, como lombalgia, fibromialgia e cefaleias tensionais.
O cérebro como centro da dor
A dor não é apenas um sinal físico; é uma experiência sensorial e emocional individual. O sistema nervoso central funciona como uma “central de interpretação”, capaz de amplificar ou reduzir a intensidade da dor. Em situações de estresse, o corpo libera substâncias como cortisol e adrenalina, que mantêm os músculos tensionados e aumentam a sensibilidade dolorosa.
“A dor física é sempre real, mas muitas vezes é influenciada por aspectos emocionais”, explica a fisioterapeuta Luciana Geraissate, especialista em reabilitação e movimento. “O corpo revela sinais que a mente nem sempre consegue expressar. Quando tratamos o paciente apenas como um conjunto de músculos e articulações, deixamos de considerar uma parte essencial da recuperação: a saúde mental..”
Dor crônica: impacto silencioso
No Brasil, estima-se que 37% da população adulta conviva com algum tipo de dor crônica, de acordo com levantamento da Sociedade Brasileira para o Estudo da Dor (SBED). Esse quadro tem repercussões diretas na qualidade de vida, produtividade e até no aumento do risco de suicídio — justamente o alerta do Setembro Amarelo, campanha de prevenção ao suicídio que chama atenção para a importância do cuidado integral com a saúde mental.
Para Luciana, o preconceito ainda é um desafio: “Dor crônica não é frescura. Cada pessoa sente de forma única, porque a dor é uma experiência neurológica individual. O que precisamos é ampliar a escuta e tratar o paciente de maneira humanizada, considerando corpo e mente em conjunto.”
O papel da fisioterapia humanizada
Diante desse cenário, a fisioterapia humanizada surge como alternativa para romper a visão fragmentada do tratamento. Mais do que aplicar técnicas para aliviar sintomas, o fisioterapeuta atua como parceiro na compreensão das causas e na construção de hábitos que favoreçam tanto a saúde física quanto a emocional.
Entre os diferenciais estão a escuta ativa, o acolhimento das queixas e a personalização dos exercícios, que levam em conta não apenas a condição clínica, mas também fatores emocionais e sociais do paciente.
“Na fisioterapia humanizada, buscamos entender o que está por trás daquela dor. A ansiedade, o estresse e até experiências traumáticas estão entre os fatores que modulam a dor. O tratamento precisa integrar corpo e mente para que a reabilitação seja, de fato, completa”, reforça Luciana.
Um convite à reflexão
Ao conectar corpo e mente, a fisioterapia amplia seu papel no cuidado integral da saúde. O Setembro Amarelo é um lembrete de que cuidar da mente é também cuidar do corpo — e vice-versa.
“Costumo dizer aos meus pacientes: quando você aprende a escutar o que o corpo sente, começa a compreender o que a mente tenta expressar. Esse diálogo é o caminho para uma vida mais saudável e equilibrada”, conclui Luciana.