Evento em São Paulo reforça Portugal como porta de entrada para investimentos brasileiros no mercado europeu
Encontro organizado pela ANCORD, em parceria com a ANBIMA e a ABRASCA e apoio do escritório PLMJ, reuniu reguladores e especialistas para debater internacionalização e inovação financeira
Realizado nesta semana em São Paulo, o evento “Atividades Financeiras por meio de Portugal” reuniu líderes do mercado financeiro e representantes das principais entidades regulatórias e associativas para discutir oportunidades de investimento na Europa e a relação entre os mercados de capitais do Brasil e Portugal.
A iniciativa, que abordou tendências regulatórias, internacionalização de capital e o papel estratégico de Portugal como porta de entrada para a União Europeia, é promovida pela ANCORD (Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias), em parceria com a ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) e a ABRASCA (Associação Brasileira das Sociedades Anônimas de Capital Aberto), com apoio do escritório PLMJ.
Portugal vive um momento de solidez macroeconômica. Em 2024, o PIB do país cresceu 2,24%, o dobro da média da União Europeia, com inflação estabilizada e taxa de desemprego alinhada aos padrões da UE, em torno de 6%.
O esforço de consolidação fiscal, que reduziu a dívida pública, aliado ao controle das taxas de juro e a iniciativas de redução de impostos para pessoas físicas e jurídicas, colabora para um ambiente propício à implementação de novos projetos. Este cenário reforça o país como meio estratégico de acesso à União Europeia, mercado de 450 milhões de consumidores e com um dos mais elevados níveis de poupança das famílias em nível mundial.
A abertura do evento foi conduzida por José David Martins Junior (ANCORD), acompanhado por Lucy Pamboukdjian (ABRASCA) e José Carlos Doherty (ANBIMA). José David destacou a relevância da aproximação entre os mercados. “Ter essa experiência dos nossos amigos portugueses é muito importante para nós, brasileiros. Como irmãos, Portugal representa uma porta de entrada para a Europa”, afirmou.
No primeiro painel, voltado à visão estratégica e competitiva do mercado português, Bruno Ferreira, sócio da PLMJ, contextualizou os fatores que tornam Portugal um destino atrativo para investidores. Segundo ele, além das vantagens regulatórias, o país reúne condições favoráveis para o planejamento de longo prazo.
“Especialmente em comparação com outras jurisdições, há um fator decisivo: as pessoas querem viver em Portugal. E estruturar bem um investimento também significa fazê-lo a partir de um lugar onde se vê futuro pessoal e profissional”, destacou.
Na discussão sobre estruturação patrimonial internacional, José Miguel Gil, cofundador da Trust Wealth Management, explicou como Portugal se posiciona diante do cenário geopolítico e regulatório global: “Portugal hoje se apresenta como resposta a três fatores principais: estabilidade política dentro da União Europeia, ambiente regulatório atrativo e apoio governamental à entrada de capital. Com a CVM brasileira atuando em conjunto com a CVM portuguesa, o país se destaca como alternativa relevante para a estruturação de patrimônio no exterior”, avaliou.
Ao longo do encontro, foram apresentados exemplos de grupos brasileiros e internacionais que já utilizam Portugal como plataforma estratégica para expansão global, especialmente em operações voltadas à gestão patrimonial, estruturação de fundos, planejamento societário e iniciativas de inovação. Segundo os especialistas, setores como tecnologia, energia, infraestrutura e mercado imobiliário têm liderado esse movimento, sustentados por um ambiente regulatório estável e por programas de fomento com recursos europeus.
Ao tratar do papel das entidades brasileiras na viabilização desse movimento, Tatiana Itikawa, superintendente de representação de mercados na ANBIMA, pontuou que a demanda por internacionalização já é consolidada entre investidores locais.
“O investidor já decidiu, ele vai investir no exterior. E o papel da ANBIMA é viabilizar isso”, afirmou, destacando que Portugal tem ganhado protagonismo pelas similaridades regulatórias com o Brasil.
Na visão de Diogo Perestrelo, co-head de Corporate M&A da PLMJ, o movimento de ampliação das operações brasileiras no país vem se intensificando com objetivos estratégicos. “Ano após ano, Portugal vem se consolidando como um excelente hub para investimentos, com empresas brasileiras buscando estruturação mais organizada e diversificação de risco, utilizando o país como ponto de entrada não apenas para a Europa”, afirmou.
Moderador do segundo painel, Rogério Fedele, advogado sênior e coordenador do Cepeda Advogados, destacou que o interesse por estruturas internacionais ganhou força com marcos como a repatriação de recursos em 2016 e o fortalecimento do compliance. “Esse movimento de Portugal se desenvolveu em sintonia com a evolução regulatória no Brasil, e Portugal se consolidou como alternativa estratégica nesse contexto”, afirmou.
O encerramento contou com a participação de Otto Lobo, presidente da CVM, que reforçou a importância da cooperação entre os reguladores para fortalecimento do ambiente de negócios. “A colaboração entre a CVM e as entidades autorreguladoras é fundamental para fortalecermos o ambiente de negócios e avançarmos em agendas estratégicas, como inovação regulatória e atração de capital”, comentou.
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